Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

30
Jul 10

Neste tempo que vivemos, que transformou a esperança no dia de amanhã numa ansiedade angustiada, creio ser oportuno meditar no texto abaixo.




CHOMSKY E AS 10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA
O linguista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:


1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a at enção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.


2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.


3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.


4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.


5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.


6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…


7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.


8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…


9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!


10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

http://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro
publicado por Do-verbo às 08:35

27
Jul 10

Diz um velho rifão: «Se queres ser bom, morre ou vai-te!...»

Pois é, a Assembleia de Freguesia de Alvalade, em Lisboa, não pensa assim.
Casualmente, chegou às minhas mãos o PRESTA CONTAS nº.17, da CDU, correspondente aos meses de Junho e Julho de 2010. E leio:



«A Assembleia de Freguesia de Alvalade, reunida em 24 de Junho de 2010, delibera manifestar o seu profundo pesar, a sua enorme mágoa pela morte do escritor José Saramago e expressar as suas sentidas condolências à sua companheira Pilar del Rio e restante família.»
Voto de pesar recusado com 4 votos a favor (1 PCP e 3 PS) e 7 votos contra (PSD).


Votos de pesar apresentados por outro partido:

O PCP votou a favor de um voto de pesar pelo falecimento de José Saramago.

(Aprovado com 7 votos a favor e 4 abstenções.)

O PCP votou a favor de um voto de pesar pelo falecimento de Saldanha Sanches.

(Aprovado com 10 votos a favor e um voto contra.)
O PCP votou a favor de um voto de homenagem a Tito de Morais, por ocasião dos cem anos do seu nascimento.
(Rejeitado com 4 votos a favor e sete votos contra.)

Assim vai a Freguesia de Alvalade, em Lisboa...


José-Augusto de Carvalho
publicado por Do-verbo às 15:33

26
Jul 10
El diputado Jordi Pedret, iba a Gaza con sus compañeros a visitar
proyectos educativos, sanitarios y los campamentos de la ONU.(Foto:Efe)

Israel niega entrada a Gaza a políticos para evitar que sean ''manipulados''
El diputado Jordi Pedret, iba a Gaza con sus compañeros a visitar proyectos educativos, sanitarios y los campamentos de la ONU.(Foto:Efe)
Autoridades israelíes le impiden el paso, a cuatro diputados españoles, a la Franja de Gaza. ''Veníamos a visitar proyectos educativos, sanitarios y los campamentos de verano de la ONU'', aseguró un parlamentario socialista. Por su parte, el gobierno israelí asegura que la negativa se debe a que Hamas se aprovecha de las visitas para manipular.


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TeleSUR _ Hace: 16 horas

Israel no autorizó la entrada de cuatro diputados socialistas españoles que invistados por la ONU se disponían este domingo a visitar la Franja de Gaza, pues aseguran que la entrada a ministros y políticos a Gaza no está permitida para imperdir que Hamas "manipule" a los visitantes. . "Veníamos a visitar proyectos educativos, sanitarios y los campamentos de verano de la Organización de Naciones Unidas (ONU)", aseguró el socialista Jordi Pedret."En ningún caso se puede interpretar como una visita de apoyo a Hamas. Pero si Israel no nos deja ver lo que pasa dentro de Gaza, entonces nace la legítima sospecha de que cuando la ONU habla de que los problemas en Gaza son en parte consecuencia del bloqueo, tiene razón", reclamó el diputado.Por su parte, Fátima Aburto, quien también forma parte de la misión, relató que los israelíes comunicaron la decisión por medio del Consulado General español en Jerusalén, sin ofrecer explicaciones. El portavoz del Ministerio de Exteriores israelí, Yigal Palmor, negó que no se haya explicado la situación y dijo que la razón es que "Hamas aprovecha para manipular la visita". "Les hemos dicho, que nos hemos dado cuenta de que cada vez que políticos o ministros entran en Gaza, Hamas aprovecha para manipular la visita y hacer creer que se trata de un acto de legitimación y reconocimiento por parte de la comunidad internacional. Por eso hemos decidido no permitirles la entrada", insistió Palmor. De este modo, "no se puede permitir la entrada regular en Gaza de políticos a nivel parlamentario o ministerial", subrayó."Estamos indignados. Consideramos un error que Israel trate de ocultar la situación en la región. Nosotros no somos ninguna flotilla, sino parlamentarios españoles que hemos venido en coordinación con la Agencia de Naciones Unidas para los Refugiados Palestinos (Unrwa), subrayó Aburto.El grupo de los cuatro diputados españoles: Fátima Aburto, José Antonio Peres Tápies, Jordi Pedret y Meritxell Cabezón, del Intergrupo Parlamentario por Palestina, tenía previsto llegar este sábado a la Franja, invitados por Unrwa. Pese a la problemática, Pedret aclaró que continuarán con el resto del programa, que apunta la visita a Cisjordania y Jerusalén Este. La delegación "seguirá con el programa visitando los proyectos de la Unrwa fuera de Gaza y tendrá también encuentros con movimientos sociales y con palestinos e israelíes que trabajan por la paz", afirmó Pedret.A pesar que el portavoz del ministerio israelí afirma que "no se oculta nada de lo que está pasando en Gaza", la diputada dijo que entendía que "si tienen que ocultar la verdad es porque algo muy malo hay detrás" y el hecho de que no le dejen entrar a territorio palestino "es bastante sospechoso".Los parlamentarios socialistas, que llegaron este jueves a Israel, permanecerán en la nación con el objetivo de visitar las ciudades cisjordanas de Ramala, Belén y Hebrón. En esta última, los diputados se desplazarán acompañados por los integrantes de la organización Rompiendo el Silencio, formada por ex militares y militares en la reserva israelíes. La organización Rompiendo el Silencio, denuncia los abusos del Ejército de Israel en los territorios ocupados palestinos.La Alta Representante de Política Exterior y de Seguridad de la Unión Europea, la británica Catherine Ashton, fue la última persona de occidente que visitó Gaza, que se encuentra bloqueada por Israel desde el año 2007, cuando Hamas ganó las elecciones en la Franja. Israel, tampoco ha permitido la entrada a Gaza por vía marítima, pues mantiene a la Franja aislada del mundo tanto por tierra como por mar. El pasado mes de mayo el Ejército israelí
asaltó una flotilla humanitaria que llevaba toneladas de ayuda humanitaria a territorio palestino, en la que murieron nueve activistas turcos. Después, el pasado mes de junio, una Flotilla de origen libio intentó romper el bloqueo, pero Israel amenazó con violencia.

teleSUR-Efe-El país/yi - FC
publicado por Do-verbo às 08:54

25
Jul 10

Israel: um monstro nasceu entre nós

24/7/2010, Uri Avnery, Gush Shalom [Bloco da Paz], Telavive
http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1279969692/


Desde que testemunhei a ascensão dos nazistas na minha infância na Alemanha, meu nariz avisa quando há fascismo no ar, desde o primeiro sinal.
Quando começou o debate sobre a “solução Um Estado”, meu nariz coçou.
“Calma, nariz”, disse eu. “Dessa vez, você errou. A “solução Um Estado” é ideia da esquerda. É ideia de gente credenciada, de grandes nomes de Israel e de todo o mundo, há entre eles até importantes marxistas.” Mas meu nariz não parava de coçar. Agora, afinal, parece que meu nariz não errou.
Não é a primeira vez que um plano de judeus ‘puros’ e de esquerda -- a esquerda kosher --, leva a conseqüências de extrema direita. Já aconteceu antes, por exemplo, no mais horrendo símbolo da ocupação da Palestina: o muro do apartheid. Foi ideia de judeus ‘puros’, de esquerda.
Quando se multiplicaram os ataques ‘terroristas’, políticos da esquerda israelense chefiados por Haim Ramon apareceram com uma solução milagrosa que tudo resolveria: construir obstáculo intransponível entre Israel e os Territórios Ocupados. Diziam que bastaria um muro para conter os ataques, sem ser preciso recorrer a ações brutais na Cisjordânia.
A Direita opôs-se veementemente. Para a Direita, seria golpe-conspiração para demarcar fronteiras fixas, que contribuiria para promover a Solução Dois Estados, a qual, para a Direita, seria (como ainda é) ameaça existencial aos planos da mesma Direita.
Mas, de repente, a Direita mudou de tom. Perceberam que o muro seria excelente oportunidade para anexar grandes porções de terras da Cisjordânia e entregá-las a colonos judeus. E aconteceu: o muro não foi construído ao longo da Linha Verde, mas bem dentro de território da Cisjordânia. E, sim, roubou grandes porções de terra de vilas palestinas.
Hoje, há manifestações da esquerda, todas as semanas, de protestos contra o muro; a direita manda soldados; os soldados atiram contra os manifestantes; e a Solução de Dois Estados permanece esquecida.
E a Direita ‘descobriu’ a Solução Um Estado. Meu nariz não para de coçar.
Um dos primeiros direitistas a falar sobre “um Estado” foi Moshe Arens, ex-ministro da Defesa. Arens é direitista extremista, membro fanático do partido Likud. Pôs-se a falar sobre “um Estado”, do mar Mediterrâneo ao rio Jordão, no qual seriam garantidos plenos direitos aos palestinos, inclusive direitos de cidadania e de voto.
Esfreguei os olhos. Seria o mesmo Arens? O que teria acontecido? Mas o mistério logo encontrou solução, solução simples.
Arens e seu grupo então ante um problema matemático que parece insolúvel: têm de converter o triângulo em círculo.
O projeto deles tem três lados: (a) querem um Estado judeu; (b) querem toda a ‘grande Israel’; e isso tem de ser (c) Estado democrático. Como fazer desses três lados bicudos, um círculo harmonioso?
Entre o mar e o rio vivem hoje cerca de 6,5 milhões de judeus e 3,9 milhões de palestinos – proporção de 59% judeus, para 41% palestinos (incluídos os habitantes da Cisjordânia, da Faixa de Gaza, de Jerusalém Leste e os cidadãos árabes-israelenses. E sem incluir, é claro, os milhões de refugiados palestinos que vivem fora de Israel).
Vários ‘especialistas’ têm tentado desmentir esses números, mas estatísticos respeitados, dentre os quais vários israelenses, aceitam-nos, com pequenas correções para um lado e o outro.
A proporção, aliás, está mudando rapidamente a favor dos palestinos. A população de palestinos em Israel duplica a cada 18 anos. Mesmo que se considere o aumento vegetativo da população de judeus em Israel e a imigração previsível no futuro imediato, pode-se facilmente prever com precisão matemática o momento em que os palestinos serão maioria na população entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo. É tempo que se calcula em anos, não em décadas.
A conclusão é uma só e inevitável. É possível atender duas, nunca as três aspirações abaixo, simultaneamente: (a) se se pensar em implantar Estado judeu em todo o país, esse Estado não será democrático; (b) se se pensar em implantar Estado democrático em toda a Israel, esse Estado não poderá ser judeu; e (c) se se pensar em Estado judeu e democrático, o Estado de Israel jamais corresponderá à “Grande Israel” dos sionistas.
É simples e é lógico. Ninguém precisaria ser um Moshe Arens, engenheiro de profissão, para entender. Assim sendo, a Direita procura hoje outra lógica, qualquer lógica, que lhes permita fantasiar um Estado judeu e democrático em toda a Israel.
Semana passada, o jornal Haaretz publicou notícia realmente surpreendente: personalidades destacadas da extrema direita israelense – de fato, da mais extrema extrema direita –, de repente, falavam da Solução Um Estado do mar ao rio. Falavam de um Estado no qual os palestinos seriam cidadãos plenos, com plenos direitos.
Aqueles direitistas citados na matéria de Noam Sheizaf
[1] não escondiam seus motivos: seu único interesse é impedir a criação de um Estado palestino ao lado de Israel, o que implicaria o fim da empreitada de colonização da Palestina e a evacuação de colônias e postos avançados de ocupação da Cisjordânia. Visavam também a calar a crescente pressão internacional a favor da Solução de Dois Estados.
Entre os esquerdistas do mundo que defendem a Solução Um Estado, a notícia foi recebida com aclamações de júbilo. E não faltaram ironias contra o campo da paz israelense (por que será que a esquerda tanto gosta de inventar discussões dentro da própria esquerda?), acompanhados de elogios à ‘visão’ da direita israelense. Que inteligência! Que generosidade! Com que facilidade adotaram ideias opostas! Só a Direita israelense entende de paz!
Pois se esses bons companheiros lessem os artigos e declarações, descobririam que não, não é nada disso. A verdade é exatamente o contrário.
Todos os seis líderes da direita israelense citados naquele artigo têm várias ideias em comum, que merecem consideração atenta.
Primeira: todos excluem a Faixa de Gaza do ‘um Estado’ proposto. Só nesse detalhe, já desaparecem 1,5 milhão de palestinos, o que diminui o risco de desequilíbrio demográfico. (Esquecem que, pelo acordo de Oslo, Israel reconheceu a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como território contínuo. Mas a direita, afinal, sempre entendeu que o Acordo de Oslo teria sido obra de esquerdistas traidores.)
Segunda: o ‘um Estado’ será, é claro, Estado judeu.
Terceira: a anexação da Cisjordânia será total e imediata, o que garantirá que a construção de novas colônias exclusivas para judeus possa continuar sem qualquer dificuldade. Na “Grande Israel” dos sionistas a empreitada colonial não pode ser limitada ou contida.
Quarta: Não há como garantir cidadania ‘antecipada’ aos palestinos.
O autor do artigo acima citado resume assim a posição daquela direita israelense: “um processo a ser completado num período estimado entre dez anos e uma geração, e, ao final do processo, os palestinos gozarão de plenos direitos individuais, mas o Estado será, nos símbolos e no espírito, Estado judeu (...). Não se fala de ‘Estado que pertencerá a todos os cidadãos’, nem em alguma ‘Isratina’, com bandeira na qual se unam a lua crescente e a estrela de Davi. O ‘um Estado’ significa soberania para judeus.”
Vale a pena conhecer os argumentos dos próprios interessados:
Uri Elitsur, ex-diretor geral do Conselho para Judeia e Samaria [ing. Judea and Samaria Council], organização dos colonos judeus conhecida como “Yesha”]: “Falo de um Estado judeu, Estado para os judeus, no qual existirá uma minoria árabe”.
Hanan Porat, um dos fundadores de Gush Emunim (dos colonos judeus religiosos; Porat é o homem que festejou e conclamou os judeus a festejarem o massacre de Baruch Goldstein em Hebron): “Sou contra a cidadania automática [para os palestinos] proposta por Uri Elitsur, que é ideia ingênua e levará a terríveis conseqüências. Proponho que se aplique a lei israelense nos territórios por etapas, primeiro nas áreas onde (já) há maioria de judeus. Depois, em etapas de uma década a uma geração, em todos os territórios.”
Porat propõe dividir a Palestina em três categorias de pessoas: (a) os que querem Estado árabe e estão dispostos a consegui-lo mediante terrorismo e luta contra o Estado (esses não terão lugar na “Grande Israel”). O que significa, é claro, que serão expulsos. (b) Os que aceitem seu lugar e submetam-se à soberania dos judeus, mas ainda não estejam dispostos a participar do Estado e cumprir todas as suas obrigações para com o Estado judeu (esses terão garantidos plenos direitos humanos, mas não terão representação no Estado judeu). E (c) os que declarem lealdade ao Estado judeu e jurem fidelidade a ele (esses receberão cidadania plena. E, claro, serão minoria).
Tzipi Hutubeli, deputada da extrema direita do partido Likud: “No horizonte político deve haver cidadania também para os palestinos da Cisjordânia e de Gaza (…) Acontecerá gradualmente (...). O processo acontecerá ao longo do tempo, talvez uma geração. Nesse período, a situação em campo será estabilizada e os símbolos e características do Estado judeu estarão ancorados na lei (...) Removeremos o ponto de interrogação que paira sobre a Cisjordânia e Gaza. Antes de tudo, prevalece a fé profunda que tenho no direito dos judeus à “Grande Israel”. Shiloh e Bet-El [na Cisjordânia] são para mim a terra dos nossos ancestrais no mais pleno sentido da palavra (...). Nesse momento falamos em dar cidadania aos que vivem na Judeia e em Samaria, não em Gaza. Sejamos claros: não reconheço qualquer direito político a qualquer palestinos, sobre a “Grande Israel” (...) Entre o mar e o rio Jordão só há espaço para um Estado: um Estado judeu.”
Moshe Arens: “A integração da população árabe (dentro de Israel) numa sociedade israelense é precondição, e só depois poderemos falar sobre cidadania para os palestinos dos territórios.” Isso significa que Arens pensa na integração dos árabes-israelenses em Israel – o que jamais aconteceu nos 62 anos de história de Israel. – Só depois de esses árabes-israelenses estarem ‘integrados’ é que pensarão sobre a questão da cidadania dos palestinos que vivem na Cisjordânia.
Emily Amrussi, colono que organiza reuniões entre palestinos e colonos judeus nas vilas limítrofes: “Não digam que pressiono para que se implante a solução “Um Estado”. No fim, talvez cheguemos lá, mas ainda estamos muito distantes. Falemos, primeiro, sobre um só país (...). Não falamos sobre cidadania, mas de relações de convivência entre vizinhos (...). Primeiro, eles têm de aprender a ser nossos bons vizinhos. Depois, lhes daremos direitos (...). No futuro, algum dia, será necessário que todos tenham cidadania.”
Reuven Rivlin, presidente do Parlamento: “O país não pode ser dividido (...) Sou contrário à ideia de um Estado para todos os cidadãos, e também sou contrário à ideia de um Estado binacional. Estou pensando sobre o que fazer para que haja soberania na Cisjordânia sob Estado judeu, talvez um regime com dois Parlamentos, um judeu, outro árabe (...) A Cisjordânia talvez venha a ser um condomínio (...). Mas tudo isso exige tempo. Parem de tentar me assustar com a demografia.”
O regime acima descrito não é estado de apartheid, é pior que isso. É Estado judeu no qual os judeus decidirão se e quando, ‘doar’ alguma cidadania a alguns árabes. As palavras “talvez numa geração” voltam e voltam –, palavras muito vagas, e não por acaso.
Mas o mais importante: há estrondoso silêncio em torno da mãe de todas as perguntas: o que acontecerá quando os palestinos forem maioria nesse ‘Um Estado’ judeu? Não é questão de “se”; é questão de “quando”. Não há nem sombra de dúvida que acontecerá, não “no período de uma geração”, mas muito antes.
Esse estrondoso silêncio fala por ele mesmo. Quem não conheça Israel talvez creia que os direitistas israelenses estejam dispostos a aceitar tal situação. Só a mais absurda ingenuidade permitirá sonhar com repetição do que houve na África do Sul, quando uma pequena maioria branca entregou o poder a uma grande maioria de negros sem banho de sangue.
Já se sabe que é impossível fazer de um triângulo bicudo um círculo harmonioso. Mas é claro que se pode tentar fazê-lo. Pelo genocídio. Pela limpeza étnica. O Estado judeu pode ser Estado democrático e, simultaneamente, ser ‘um Estado’ e judeu: basta que nenhum palestino sobreviva entre o mar e o rio Jordão.
Há limpeza étnica dramática (como se viu em Israel em 1948 e no Kosovo em 1998) e há limpeza étnica silenciosa e sistemática, por dúzias de métodos sofisticados, como se vê acontecendo hoje em Jerusalém Leste. Mas não há qualquer dúvida de que alguma limpeza étnica é a solução final prevista no “um Estado” judeu com que sonha a direita israelense. No primeiro estágio, Israel tentará cobrir o território com colônias exclusivas para judeus e, assim, demolir qualquer possibilidade de que se implementem dois Estados. Sem dois Estados, jamais haverá paz.
No filme “O bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, uma linda jovem dá à luz um bebê, o filho de Satã. O que a esquerda israelense vê hoje como atraente solução de um Estado é filho do mesmo monstro direitista de sempre.


[1] “Endgame”, Noan Sheizaf, Haaretz, 16/7/2010,
publicado por Do-verbo às 23:20

17
Jul 10

 

A feira dos medíocres continua!
Senhores, quem dá mais? Quem arremata?
Sujeita à turba e à provação da rua,
a chusma de alimárias à arreata!
 
Os guizos, nos molins, são uma festa!
Em algazarra, corre o rapazio!
Morenos pelo sol que em fogo cresta,
ciganos e malteses de ar sombrio...
 
Barracas de andrajoso amor comprado,
um vómito de nojo purulento!
E, ao sol deste martírio, o descampado
inteiriçado ao frio do relento...
 
Lá longe, na cidade bem guardada,
a corte, em seus festins, não dá por nada...


(Nihil sine causa, nada existe sem uma causa, Cícero)
Viana do Alentejo*Évora*Portugal
26 de Janeiro de 2000.
publicado por Do-verbo às 17:08


Texto de Zoltan Zigedy

Noventa anos atrás Lenine afirmou que "sob as condições gerais da produção de mercadorias e da propriedade privada, a 'dominação' dos monopólios capitalistas torna-se inevitavelmente a dominação de uma oligarquia financeira". Ele desenvolveu a ideia de que "A supremacia do capital financeiro sobre todas as outras formas de capital significa a predominância do rentista e da oligarquia financeira". Deixarei ao leitor curioso o exame de Imperialismo: A etapa superior do capitalismo para verificar a argumentação convincente que está por trás desta afirmação presciente. Mas seguramente ela decorre de um entendimento profundo da exposição de Marx da lógica do capitalismo e da evidência disponível no tempo de Lenine. Ironicamente, esta projecção agora antiga – esta previsão da dominância do capital financeiro – diz mais da crise económica que agora devasta o planeta do que a multidão de laureados com o Prémio Nobel que pontificam acerca da causa da retracção começada em 2008. A dominância de uma "oligarquia financeira", como prevista por Lenine, atingiu o seu zénite durante os últimos vinte anos com o sector financeiro a duplicar a sua fatia dos lucros corporativos nos EUA. Mas "dominância" não é meramente uma matéria de supremacia no lucro; ela inclui também a ascendência do poder político, social e ideológico. A viragem neoliberal introduzida solenemente no fim da administração Carter e vigorosamente alimentada por Reagan principiou um processo de desregulamentação que acabou por remover as algemas nas finanças estabelecidas pelo New Deal. O sector financeiro desencadeou a dívida como o mecanismo para escravizar consumidores, cidades, municípios, estados e países soberanos. Fundos de pensão foram ou privatizados ou atraídos para grupos de investimento especulativo. Cartões de crédito, hipotecas e títulos tornaram-se as ferramentas de dominação da oligarquia financeira. Ao mesmo tempo, os enormes lucros acumulados permitiram ao sector financeiro comprar uma influência decisiva no circo dos dois partidos, através de lobbies, contribuições de campanha e corrupção desenfreada. Com a notável excepção da descrição do perverso Gordon Gekko no filme de Oliver Stone, os banqueiros de investimento foram encarados como as figuras mais brilhantes, mais dinâmicas e mais invejadas da imaginação popular. Dominância inevitavelmente convida à tirania e o sector financeiro avidamente aproveitou a oportunidade. Hoje, a expressão desta tirania é a noção louca de que bancos são "demasiado grandes para falirem". Vemos esta tirania na arrogância da Goldman Sachs, a operar sem nenhum respeito pelos interesses nacionais ou a opinião pública e sem qualquer travão efectivo do governo. Analogamente, a timidez de legisladores em conceber regulação bancária efectiva destaca esta tirania. Mas nada sublinha mais esta tirania do que a actual crise da dívida europeia. CRISE EUROPEIA A Europa, hoje, é uma refém do mercado de títulos. Porque a União Europeia é um projecto comum incompleto com desigualdades, desequilíbrios e contradições histórica, ela é presa fácil para a oligarquia financeira. Estas condições de fraqueza abandonam as economias menos desenvolvidas aos abutres do capital financeiro. Mas o jogo não era a solvência porque nunca houve realmente qualquer questão – como as coisas estavam no fim de 2009 – de que a Grécia, Portugal, Itália, Irlanda, Espanha ou mesmo Roménia e Hungria pudessem cumprir suas obrigações de dívida ou assegurar novos empréstimos. Mais exactamente, a crise foi tramada pelos predadores financeiros. O ataque especulativo em grande escala por parte do sector financeiro estrangulou estas economias até à submissão, forçando-as, no momento em que a recuperação estava no equilíbrio, a abandonar quaisquer programas de estímulo e a abraçar uma extrema austeridade do sector público. Nove meses depois, este pânico da dívida propagou-se através do mundo, com governos a correrem para cortar empregos no sector público, benefícios e salários, eliminando programas sociais e privatizando obras públicas. Como carneiros, políticos, sabichões e comentadores acrescentaram suas vozes reverenciais aos mercados de títulos. O governo do PASOK na Grécia prosternou-se à oligarquia financeira, seguido pelos governos espanhol, português e irlandês. O novo governo do Reino Unido garantiu cortes profundos nas despesas do governo. Preocupações com dívida empurraram para o lado todas as outras questões nas eleições holandesas. O governo francês está a pressionar por um aumento na idade de reforma. E o novo governo da Hungria quase entrou em colapso ao sugerir que podia desviar-se do plano de jogo imposto pelo FMI de miserabilismo fiscal. Os EUA, embora não afectados pela agressão financeira, também sucumbiram à extorsão da oligarquia financeira. O presidente Obama pretende cortar a Segurança Social e o Medicare através da sua discreta Comissão sobre Responsabilidade e Reforma Fiscal. Para aqueles que se recusam a desafiar a dominância dos mercados financeiros e a tirania dos títulos, não há nenhum outro caminho senão aceitar e impor cortes profundos nos gastos públicos. O ataque à Grécia foi uma demonstração do poder do sector financeiro e a sua brutalidade ao utilizá-lo. Exactamente quando os cortes de despesas começam a sentir-se, a Grécia experimenta inflação explosiva, um desenvolvimento fatal nos seus efeitos sobre os padrões de vida da classe trabalhadora grega. Mas há uma resposta à tirania dos títulos, uma resposta que apela à mobilização em massa do povo trabalhador contra a oligarquia financeira. Essa resposta recusa-se a acatar um sistema que promete atrasar durante décadas a segurança e os padrões de vida do povo trabalhador e oferece-lhe um futuro negro. Os omnipresentes porta-vozes da oligarquia financeira apelam a sacrifícios para restaurar a ordem no sistema económico. Isto é um logro calculado. Não há qualquer nobre sacrifício em capitular à extorsão ou aceitar que há a inevitabilidade da dominação dos mercados financeiros. Trabalhadores na Grécia, liderados pelos comunistas gregos e o agrupamento de todos os sindicatos, PAME, estão na vanguarda da organização de greves e manifestações contra a oligarquia financeira. A sua determinação e apelos à unidade estabeleceram um exemplo para todos os trabalhadores europeus. Nos calcanhares das acções gregas, trabalhadores portugueses foram às ruas. A maior central sindical da Espanha, Comisiones Obreras, foi à greve em 8 de Junho, com 75% dos 2,6 milhões de trabalhadores da organização aderindo à acção e com uma greve geral prevista. Trabalhadores do sector público na Roménia organizaram várias acções militantes. Quando o combate se intensifica, a unidade é essencial – mas não a expensas da militância. Os resmungos das lideranças de muitos sindicatos europeus são bem vindos, mas devem ser apoiados por organização efectiva e mobilização de massa. Recentemente, vários líderes sindicais do Reino Unidos falaram iradamente dos cortes draconianos prometidos pelo novo governo, mas falharam em apresentar mais do que retórica estridente e futuras ameaças eleitorais. Nos EUA, uns poucos líderes têm falado contra o assalto encoberto da administração Obama a programas sociais, mas um movimento de massa ainda está por emergir. Uma confrontação de base classista com a oligarquia financeira enfrenta muitos obstáculos, o não menor dos quais é a quase total dominação do trabalho organizado no pós Guerra-Fria pelos colaboracionistas de classe, a liderança social-democrata. E os oligarcas financeiros estão plenamente conscientes desta fraqueza. Recentemente, o chefe da Comissão Europeia, presidente José Manuel Barroso, reuniu muitos dos líderes sindicais social-democratas para instruí-los sobre os perigos de resistir ao assalto aos padrões de vida provocados pela "crise" predatória da dívida. Conforme relatado pelo Daily Mail britânico: "Numa palestra extraordinária a responsáveis sindicais na semana passada, o presidente da Comissão José Manuel Barroso expôs uma visão "apocalíptica" na qual países atingidos pela crise no Sul da Europa poderiam tornar-se vítimas de golpes militares ou levantamentos populares quando taxas de juro subirem e serviços públicos entrarem em colapso porque acaba o dinheiro dos seus governos". São os "levantamentos populares" que Barroso teme, um temor que é partilhado pelos líderes sindicais social-democratas. Além disso, ele quer alistar estes líderes na tarefa de empurrar o programa de austeridade goela abaixo dos trabalhadores. John Monks, responsável do European Trades Union Congress, comentou: "Tive uma discussão com Barroso sexta-feira passada acerca do que pode ser feito para a Grécia, Espanha, Portugal e o resto e a sua mensagem foi brusca: "Olhe, se eles não executarem estes pacotes de austeridade, estes países poderiam virtualmente desaparecer do modo que os conhecemos como democracias. Eles não têm nenhuma escolha, é isto". Ao mesmo tempo, "o sr. Monks advertiu ontem que as novas medidas de austeridade poderiam por si próprias levar o continente 'de volta à década de 1930' ", segundo o Daily Mail. Claramente, sociais-democratas como o sr. Monks estão desejosos de remeter a classe trabalhadora europeia "de volta aos anos 1930" ao invés de arriscar levantamentos populares que desafiariam a oligarquia financeira. A Federação Sindical Mundial apelou a um dia internacional de acção do movimento sindical em 7 de Setembro de 2010. Devem ser feitos todos os esforços para preparar esta acção ao longo do Verão. Devem ser feitos todos os esforços para mobilizar o povo trabalhador contra a oligarquia financeira. Levantamentos populares é o que precisamos.

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publicado por Do-verbo às 16:02

14
Jul 10

O jornalista Francisco Luciano Lepera morreu aos 86 anos de idade na manhã deste domingo (11), em sua residência, em Ribeirão Preto, após lutar por quase dois anos contra o Mal de Alzheimer.O corpo de Lepera foi enterrado hoje (12) no Cemitério da Saudade. Além de jornalista, Lepera também foi vereador e deputado estadual pelo Partido Comunista, entre as décadas de 50 e 60.Lepera teve os direitos políticos cassados por 10 anos e impedido, inclusive, de trabalhar em qualquer veículo de comunicação. Ele deixa um filho, uma neta e dois bisnetos.

Um patriota, um lutador do povo
Texto de Vanderley Caixe


Conheci Luciano Lepera quando eu tinha 15 anos. Foi num comício nas confluências da rua Minas com a rua Paraíba. Estava ele em cima de um caminhão velho, com o microfone na mão e o som do alto-falante vindo da capota do veículo. Luciano era candidato pela primeira vez à Assembléia Legislativa de São Paulo. Vinha de vários mandatos como vereador, em Ribeirão Preto. Fora um dos vereadores mais atuantes na defesa dos trabalhadores e dos interesses nacionais. Autor de mais de 700 projetos nessa linha. A fala de Luciano Lepera, em cima daquele caminhão, não era um discurso de comício, era a palavra segura, emocionante em defesa do nosso povo e da soberania nacional. Era didático. Comício que não se faz mais. Luciano era o professor: explicava a origem da carestia, nominava os grupos que exploravam a nossa gente e o nosso país. Fazia do palanque a sala de aula. Não fabricava eleitores, mas produzia em cada comício homens conscientes, cidadãos indignados com a rapina de nosso país. Naquela noite, recordo-me ainda, falava da luta : o "petróleo é nosso", da árdua luta para manter essa riqueza em nosso solo e aproveitá-la somente em prol do Brasil.
Lembro-me dos nomes de nacionalistas, como Euzébio Rocha, o autor do substitutivo que deu origem à Lei 2004 , instituindo o monopólio estatal do petróleo, para a tristeza dos imperialistas da Esso, Shell, Texaco e outras componentes das sete irmãs : as responsáveis pelas guerras e invasões e tantos horrores cometidos nos países do terceiro mundo. Luciano Lepera nominava os nossos patriotas como o general Estilac Leal, Gondim da Fonseca, Maria Augusta Tibiriçá Miranda, entre tantos outros valorosos defensores da nossa nacionalidade; estimulava a nossa virtude e o orgulho de ser brasileiro. Fui conscientizado nesse comício-aula. Relembro, ainda, a sua simplicidade no vestir, como aliás é até hoje, revela o seu total desapego aos bens materiais. Sempre ofereceu tudo o que ganhava às lutas populares, aos sindicatos, ajudando os companheiros em dificuldades. Era a imagem do lutador , do conscientizador, do agitador que entregou a sua vida pela causa do nosso povo e do nosso país. Lepera, eleito deputado estadual, dedicou o seu mandato inteiramente a serviço do povo e da nação: ora estava na Assembléia Legislativa denunciando os esbirros da polícia e o massacre da população, que lutava pelos seus direitos; ora estava nas portas das fábricas ajudando a garantir o direito de greve; ora estava nos palanques na luta pela paz e contra as invasões imperialistas nos países do nosso continente ; ora ainda preocupava-se em elaborar projetos em defesa do trabalhador rural e urbano, dos professores, dos menos favorecidos e dos excluídos. Não foram poucas as viagens que fez para o interior do Estado de São Paulo, ajudando a criar sindicatos, interferindo junto às delegacias de polícia nos casos de prisões de trabalhadores. Uma luta incansável, diuturna, popular e patriótica. Esse não era o deputado que interessava à classe dominante, exploradora e entreguista. Era preciso calar a boca do líder Luciano Lepera. Esse deputado era um "perigo para os privilegiados do sistema, das empresas estrangeiras sediadas no Brasil". Em 1962, eu ingressava na Faculdade de Ciências Econômicas, da qual fui presidente do Centro Acadêmico e expulso, no golpe militar de 1964. Nesse período, continuei acompanhando a luta pela reeleição de Luciano Lepera. Alguns meses depois, surpreso, soube que o Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo havia cassado o registro da candidatura de Luciano Lepera, com base num extenso relatório do Departamento de Ordem Política e Social – o famigerado DOPS. Luciano Lepera recorreu e concorreu às eleições. Foi eleito, mas não lhe deram posse. Um ano depois, veio o golpe da direita, dos grandes grupos econômicos, do imperialismo e dos traidores da pátria. E Luciano foi preso, perseguido e silenciado durante todo o tempo da ditadura. Resistiu sempre, sem perder a dignidade alimentada pelos seus ideais, de uma sociedade justa, de um povo livre e um país soberano. Hoje, apesar da idade, continua a lutar. Leio todos os dias os seus magníficos artigos, nas páginas do jornal A Verdade e me inteiro da admiração, respeito e carinho que essa geração mais nova, de jornalistas e idealistas, têm pelo nosso Luciano Lepera. Entre eles o Zé Fernando Chiavenatto, de quem o Luciano sempre me fala. Mesmo essa geração que o admira e o respeita, talvez conheça pouco da dimensão dessa figura e das causas (arbitrariedades) apontadas para a cassação do seu registro. Há dias, procurando nos arquivos do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo, localizamos parte dessas arbitrariedades, praticadas contra o Luciano Lepera. Encontramos, nos porões daquele famigerado órgão, os arquivos deste processo e o relatório do DOPS, que serviu de base para a cassação do registro desse nosso grande patriota. Lendo-os, seria preciso não ser brasileiro para não nos revoltarmos com as indignidades, o servilismo aos grandes grupos alienígenas tanto de belegüins de polícia como de juízes, procuradores e desembargadores dessa nossa “justiça”. O objetivo de fazer conhecer esse "dossiê" (relatório) político-policial é o de revelar a magnitude da grandeza e a história política, popular e patriótica de Luciano Lepera; enquanto para o DOPS, para os exploradores do povo, para o imperialismo, Luciano era “criminoso” e deveria ser cassado. Essa é a verdade dos dominadores e exploradores do povo. A luta de Luciano Lepera é a luta dos justos, pelos excluídos da grande sociedade, a luta em defesa da nossa pátria e das nossas riquezas. Para os vendilhões da pátria e exploradores do nosso povo, era preciso negar-lhe o registro e os votos de quantos votaram na continuidade da sua luta. Vou citar apenas alguns trechos desse relatório do Dops e da denúncia oferecida pela procuradoria contra Luciano Lepera: "....segundo informação prestada pela autoridade policial de Ribeirão Preto em 17 de novembro de 1948, a pedido deste DOPS, o epigrafado era componente do comitê do "Centro de Estudos do Petróleo" daquela cidade, pertencendo ao "Departamento de Imprensa" desse comitê ". Em outro trecho (do relatório do DOPS)... ".....(Luciano Lepera e outros) realizaram, no dia 24 de março de 1956, nos salões do "C. Paulista", uma reunião de apoio a Campanha Nacional Pró-Anistia aos Presos e Processados Políticos". Outro "crime" de Luciano Lepera, anunciado pelo DOPS a serviço do imperialismo: ".....que no dia 3 de novembro de 1957, realizou-se na sede da União Geral dos Trabalhadores – UGT - de Ribeirão Preto, a primeira reunião do "Núcleo Nacionalista" daquela cidade que, como as demais congêneres do País, se propõe a "defender as riquezas nacionais, preservando-as da conquista estrangeira." Nessa oportunidade, procedeu-se a eleição da comissão provisória e, na sua constituição, consta o nome do vereador e jornalista Lepera." Eis o "crime" de Luciano Lepera: "defender o povo e as riquezas nacionais... Por isso e, por toda a história de Luciano Lepera, tenho a honra de partilhar dessas justas homenagens, para perpetuar esse exemplo de dignidade e perseverança aos ideais de defesa do nosso povo e da nossa Pátria. Parabéns, Luciano!
Do companheiro, sempre,

Vanderley Caixe.
publicado por Do-verbo às 22:47

09
Jul 10
 


Cada dia que passa, o mundo é mais pequeno.
As notícias que chegam, desnudam as misérias paridas pelo incensado avanço duma civilização que se reclama, aos quatro ventos, dos direitos humanos.
A civilização que, num frenético leilão, compra e vende consciências.
A civilização que avilta a dignidade em chás de caridade e em paradas de pompa e circunstância.
Ah, e como as pantalhas de todas as latitudes disputam, como as feras, a presa indefesa, em acções concertadas de eficaz e paciente anestesia!
Ah, e como a presa indefesa e quase inerme voga na corrente dum recuperado Hades, donde foi banido Caronte e a sua barca!...

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender, cada vez a preços mais acessíveis, as manhãs sem sol, o mar sem vida nem aventura, a desgraça sem fim da desesperança!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender o elixir da alienação, para, mais e mais, ser garantida a ostentação dos poderosos!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender as lotarias que fazem um rico e desesperam milhões de pobres!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender balelas coloridas que distraiam o dia sem fim e torturam de sonhos a noite da vida!

É preciso lamentar! É urgente lamentar! É inadiável lamentar o luto dos sobreviventes da catástrofe!

É preciso chorar! É urgente chorar! É inadiável chorar o pranto continuado das carpideiras que, por trinta dinheiros, elegem heróis os mortos, os mortos que já nada podem reclamar aos vendedores de ilusões e mentiras e aos carcereiros desta penitenciária de segurança provada, que pretende a fuga impossível e a morte o alívio que resta!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar os gritos lancinantes dos condenados!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar as verdades alucinadas da loucura que ainda grita que o rei vai nu na força da vontade que recusa render-se!

É preciso incensar o Poder! É urgente incensar o Poder! É inadiável incensar o Poder que legitima as cruzes intemporais de todos os calvários!

É preciso regressar a Roma! É urgente regressar a Roma! É inadiável regressar a Roma e recrucificar todos os perigosos malvados que sabem conjugar o verbo em todos os tempos.


Viana*Évora*Portugal 
Julho de 2010
publicado por Do-verbo às 15:10

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