Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

26
Dez 14

Carlos Drumond.jpg

 

Nosso Tempo

I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II
Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III
E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?

Ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiados urbano,
ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,
moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,
pessoas e coisas enigmáticas, contai;
capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;
ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
costureira, luto no braço, pombas, cães errantes, animais caçados, contai.
Tudo tão difícil depois que vos calastes...
E muitos de vós nunca se abriram.

IV
É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.

No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.

V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem,
imaginam esperar qualquer coisa,
e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.
Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,
o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,
escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
errar em objetos remotos e, sob eles soterrados sem dor,
confiar-se ao que bem me importa
do sono.

Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.

VI
Nos porões da família
orquídeas e opções
de compra e desquite.
A gravidez elétrica
já não traz delíquios.
Crianças alérgicas
trocam-se; reformam-se.
Há uma implacável
guerra às baratas.
Contam-se histórias
por correspondência.
A mesa reúne
um copo, uma faca,
e a cama devora
tua solidão.
Salva-se a honra
e a herança do gado.

VII
Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
dores de classe, de sangrenta fúria
e plácido rosto. E há mínimos
bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
lesões que nenhum governo autoriza,
não obstante doem,
melancolias insubornáveis,
ira, reprovação, desgosto
desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
Há o pranto no teatro,
no palco ? no público ? nas poltronas ?
há sobretudo o pranto no teatro,
já tarde, já confuso,
ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,
vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
e secar ao sol, em poça amarga.
E dentro do pranto minha face trocista,
meu olho que ri e despreza,
minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.

 

Carlos Drummond de Andrade

 
publicado por Do-verbo às 20:05

03
Dez 11
Miliciano - Guerra Civil de Espanha (1936-39)
.
España!
No hagas caso de lamentos
ni de falsas emociones;
las mejores devociones
son los grandes pensamientos.
Y, puesto que, por momentos,
el mal que te hirió se agrava,
resurge, indómita y brava,
y antes de hundirte cobarde
estalla en pedazos y arde,
primero muerta que esclava.
***
Espanha!
Não te importem os lamentos
nem as falsas emoções!
As melhores devoções
são os grandes pensamentos.
E se, mesmo por momentos,
o mal que te dói se agrava,
ressurge indómita e brava!
Em vez de um render cobarde,
estala em pedaços e arde,
que antes morta do que escrava.


*

Nota:
Poema atribuído a Federico García Lorca. Foi por mim traduzido em 1969 e publicado, na mesma altura, na República das Letras e das Artes, suplemento semanal do jornal diário República. Este suplemento era dirigido pelo Poeta Alfredo Guisado, que fora amigo de Fernando Pessoa e seu companheiro na aventura do Orpheu, em 1915.

publicado por Do-verbo às 17:32

12
Nov 11
António Machado
Sevilla, 26.7.1875 - Collioure, Francia, 22.2.1939

 

*****
EL CRIMEN FUE EN GRANADA
   * ** A FEDERICO GARCÍA LORCA ***
5.6.1898-18.8.1936
.
1. El crimen
Se le vio, caminando entre fusiles,
por una calle larga,
salir al campo frío,
aún con estrellas de la madrugada.
Mataron a Federico
cuando la luz asomaba.
El pelotón de verdugos
no osó mirarle la cara.
Todos cerraron los ojos;
rezaron: ¡ni Dios te salva!
Muerto cayó Federico
—sangre en la frente y plomo en las entrañas—
... Que fue en Granada el crimen
sabed —¡pobre Granada!—, en su Granada.
.
 2. El poeta y la muerte
Se le vio caminar solo con Ella,
sin miedo a su guadaña.
—Ya el sol en torre y torre, los martillos
en yunque— yunque y yunque de las fraguas.
Hablaba Federico,
requebrando a la muerte. Ella escuchaba.
«Porque ayer en mi verso, compañera,
sonaba el golpe de tus secas palmas,
y diste el hielo a mi cantar, y el filo
a mi tragedia de tu hoz de plata,
te cantaré la carne que no tienes,
los ojos que te faltan,
tus cabellos que el viento sacudía,
los rojos labios donde te besaban...
Hoy como ayer, gitana, muerte mía,
qué bien contigo a solas,
por estos aires de Granada, ¡mi Granada!»
.
3.
 
Se le vio caminar...
Labrad, amigos,
de piedra y sueño en el Alhambra,
un túmulo al poeta,
sobre una fuente donde llore el agua,
y eternamente diga:
el crimen fue en Granada, ¡en su Granada!
.
 
Antonio Machado
publicado por Do-verbo às 22:16

25
Ago 10
Gabriel Celaya (Espanha, 1911-1991)

.
La Poesía es un arma cargada de Futuro
 .
Cuando ya nada se espera personalmente exaltante,
mas se palpita y se sigue más acá de la conciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmado,
como un pulso que golpea las tinieblas,
 .
cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades:
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades.
Se dicen los poemas
que ensanchan los pulmones de cuantos, asfixiados,
piden ser, piden ritmo,
piden ley para aquello que sienten excesivo.
 .
Con la velocidad del instinto,
con el rayo del prodigio,
como mágica evidencia, lo real se nos convierte
en lo idéntico a sí mismo.
 .
Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto somos dar un sí que glorifica.
 .
Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo.
Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse.
 .
Hago mías las faltas. Siento en mí a cuantos sufren
y canto respirando.
Canto, y canto, y cantando más allá de mis penas
personales, me ensancho.
 .
Quisiera daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso con técnica qué puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España en sus aceros.
.
.
Tal es mi poesía: poesía-herramienta a la vez que latido de lo unánime y ciego. Tal es, arma cargada de futuro expansivo con que te apunto al pecho.
No es una poesía gota a gota pensada. No es un bello producto. No es un fruto perfecto. Es algo como el aire que todos respiramos y es el canto que espacia cuanto dentro llevamos.
Son palabras que todos repetimos sintiendo como nuestras, y vuelan. Son más que lo mentado. Son lo más necesario: lo que no tiene nombre. Son gritos en el cielo, y en la tierra son actos.
publicado por Do-verbo às 16:03

21
Ago 10

   

    

Rafael Alberti
(1902-1999)

 

.

 

Balada para 

los poetas andaluces de hoy


 Federico García Lorca

  assassinado em 1936 
 
,

¿Qué cantan los poetasandaluces de ahora?

¿Qué miran los poetasandaluces de ahora?

¿Qué sienten los poetasandaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero dónde los hombres?

Con ojos de hombre miran, ¿pero dónde los hombres?

Con pecho de hombre sienten, ¿pero dónde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.

Miran, y cuando miran parece que están solos.

Sienten, y cuando sienten parece que están solos.

¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?

¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?

¿Que en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?

¿Quien mire al corazón sin muros del poeta?

¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oiréis que oyen otros oídos.

Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.

Latid alto. Sabréis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo encerrado.

Su canto asciende a más profundo

cuando, abierto en el aire, ya es de todos los hombres.

¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?

¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?

¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero dónde los hombres?

Con ojos de hombre miran, ¿pero dónde los hombres?

Con pecho de hombre sienten, ¿pero dónde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.

Miran, y cuando miran parece que están solos.

Sienten, y cuando sienten parece que están solos.

¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?

¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?

¿Que en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?

¿Quien mire al corazón sin muros del poeta?

¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oiréis que oyen otros oídos.

Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.

Latid alto. Sabréis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo

encerrado. Su canto asciende a más profundo

cuando, abierto en el aire, ya es de todos los hombres.
 . 
RafaelAlberti.

Ora marítima, 1953.

publicado por Do-verbo às 16:45

13
Jan 10


Texto de Urda Alice Klueger


Ele já estava com mais de trinta anos quando eu nasci, mas só fui conhecê-lo em idade adulta. Um ser como ele, único na sua espécie, decerto já andava a espargir o seu pó de pirlimpimpim por sobre sangues, lutas e esperanças lá na altura em que eu nasci, mas muito tempo passou para eu tomar contato com a sua magia – fui criança, fui adolescente, fui jovem, tornei-me madura (será que algum dia a gente, realmente, amadurece?) sem me dar conta que ali, do outro lado da fronteira (fronteiras, pois também viveu como exilado. Como alguém com a espantosa grandeza d’alma que ele tinha não andar exilado em plena Operação Condor, quando os que nos dirigiam eram títeres formatados por algo nefando como a Escola das Américas[1]?) havia aquele homem que era pura luz, e que como nenhum outro até então soube contar e cantar esta nossa América na limpidez lúcida e corajosa dos seus versos ímpares.
Mário Benedetti entrou na minha vida através de um poema de amor que era cheio de erotismo, e fiquei curiosa com aquele poeta que me chegava do Uruguai (embora os tantos exílios), e tão curiosa fiquei que quis saber mais, e fui mergulhando na sua produção, na sua longa obra de tão longos anos, até o dia em que me deparei com aquele poema único dos únicos: “Te quiero”:

 

“(...)

 

Tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada;
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro.

 

Tu boca que es tuya e mia
tu boca no se equivoca
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldia.

 

Se te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos muchos más que dos.

 

(...)” [2]
Céus, aquilo era o meu sonho de vida! “...En la calle codo a codo somos muchos más que dos.” Calou-me tão fundo à alma que fiquei a pensar se haveria para mim este parceiro que me completaria tão completamente, tão completamente... Sonha-se; assim é a vida, e ninguém como Mário Benedetti para nos atirar para dentro do mundo diáfano, colorido e real dos sonhos – depois de se ler um poema assim, a gente passa a ver que tudo é possível. Tomei-me de tal carinho por “Te quiero” que como que o afivelei com toda a força ao meu coração sempre tão solitário, e ele era como um arrimo para a minha solidão, enquanto descobria mais e mais pérolas desse uruguaio único que era capaz de desestabilizar ditaduras cruéis com a força da sua palavra, a ponto de estar tendo sempre que ir trocando de país por onde o Condor voava...
A gente querendo ou não, a vida vai passando e muitas coisas vão acontecendo. Em maio de 2009 eu estava convidada para um evento cultural no Mestrado em Letras da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai – URI - na cidade de Frederico Westphalen/RS, grande evento internacional, que reunia gente da área de Letras de mais de um país. Lá estavam três uruguaios convidados: o escritor Ignacio Martinez, Mariel Cardozo e Graciela Veiga. Foram dias e noites maravilhosas, onde desfrutamos de inúmeras atividades culturais naquele cursos de Letras que me pareceu, também, único – nunca vi outro com tal qualidade e garra pelos lugares onde até hoje andei – e onde professores e convidados fazíamos as refeições juntos em lindos restaurantes, refeições que acabavam se transformando em tertúlias, e numa dessas noites, à hora da sobremesa, os uruguaios passaram a declamar poemas de sua terra, notadamente de Mário Benedetti, e eu pedi: “Ah, por favor, por favor, declamem Te quiero, aquele que diz: "Y en la calle codo a codo somos muchos más que dos!".
Muito vã a minha ênfase! Se eu cá de outro país, de outra língua, sabia tanto do poema para dizer seu nome e aquele pedacinho fascinante, o que esperar de legítimos uruguaios? Então houve o momento mágico: nuestros hermanos passaram imediatamente para o poema, mas não se limitaram a declamá-lo: no Uruguai, ele é música! Ignácio Martinez tomou de um violão, e pela primeira vez na vida eu ouvia, transformados em canção, aqueles versos únicos:
“(...)Te quiero em mi paraíso;
es decir, que em mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso (...)” [3]
Aquele foi um dos momentos pelos quais vale a pena viver! Emocionadíssima, coração aos saltos, lágrimas nos olhos, eu esperei o final daquela canção fascinante e então assegurei aos irmãos uruguaios: “Se Mário Benedetti morrer antes que eu, não importa se daqui a um ou a vinte anos, eu vou fazer uma crônica de despedida a ele relembrando este momento ímpar aqui em Frederico Westphalen, na companhia de vocês!”.
Um dia ou dois depois voltei para minha casa – e no terceiro dia depois daquela noite, Mário Benedetti morreu, aos 89 anos. Gastara até o fim a sua vida usando a palavra como carícia e como arma contundente, e deixou para a humanidade um legado que dificilmente poderá ser suplantado. Eu fiquei com aquilo engolido na minha alma como se tivesse um espinho a atravessá-la, e só agora, mais de sete meses depois, é que me sento para fazer a despedida prometida lá em Frederico Westphalen.
Só que não é despedida, porém. Lá do outro lado da vida, Mário Benedetti não nos abandona. Faz um dia ou dois que ele, de repente, reaparece na telinha do meu computador, trazendo toda a esperança e a inquietação que sempre causou ao longo da sua vida:
“Que passaria se un dia
Despertarmos dandonos
Cuenta de que somos mayoría?
(...)Que passaria?”[4]
Ah! Mestre, Mestre, não há como despedir-me de ti! És como nosso alter ego, nossa consciência mais profunda, nossa esperança mais certa, nossa sensibilidade mais aflorada! Que acontecerá quando na rua, lado a lado, formos muito mais que dois? Ai, Mestre, como me atinges profundamente o coração!
.
Blumenau, 06 de janeiro de 2010 – Dia de Reis
Urda Alice Klueger
Escritora.
Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
.
Notas:
[1] A Escola das Américas, instituição estadunidense que funcionou desde 1946 no Panamá, formando torturadores e outros sádicos para dominarem a América dita Latina, atualmente está funcionando no Fort Benning, estado da Geórgia/EUA, com o nome de Instituto de Cooperação para a Segurança Hemisférica.
[2] “(...) Teus olhos são meu conjuro/ contra a má jornada/ te quero por teu olhar/ que olha e semeia o futuro// Tua boca é tua e minha/ tua boca não se equivoca/ te quero porque tua boca/ sabe gritar rebeldia.// Se te quero é porque sois/ meu amor, minha cúmplice e tudo. E nas ruas lado a lado/ somos muito mais que dois.( ...)
[3] “Te quero em meu paraíso/ e dizer que em meu país/ as pessoas vivem felizes/ embora não tenham permissão.(...)”
[4] Que aconteceria se um dia/ despertarmos dando-nos/ conta de que somos mayoria? (...) Que aconteceria?
.
PressAA
http://assazatroz.blogspot.com/http://santanadoipanema.blogspot.com/http://pressaa.blogspot.com/
Cartaoberro mailing listCartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.brhttp://serverlinux.revistaoberro.com.br/mailman/listinfo/cartaoberro
publicado por Do-verbo às 22:37

06
Dez 07





1.- Nuestra voz.
2.- Vámonos patria a caminar.
3.- Distante de tu rostro.

 

 


1

 

Para que los pasos no me lloren,
para que las palabras no me sangren:
canto.

 

Para tu rostro fronterizo del alma
que me ha nacido entre las manos:
canto.

 

Para decir qe me has crecido clara
en los huesos más amargos de la voz:
canto.

 

Para que nadie diga: ¡tierra mía!,
con toda la decisión de la nostalgia:
canto.

 

Por lo que no debe morir, tu pueblo:
canto.

 

Me lanzo a caminar sobre mi voz para decirte:
tú, interrogación de frutas y mariposas silvestres,
no perderás el paso en los andamios de mi grito,
porque hay un maya alfarero en tu corazón,
que bajo el mar, adentro de la estrella,
humeando en las raíces, palpitando mundo,
enreda tu nombre en mis palabras.

 

Canto tu nombre, alegre como un violín de surcos,
porque viene al encuentro de mi dolor humano.

 

Me busca del abrazo del mar hasta el abrazo del viento
para ordenarme que no tolere el crepúsculo en mi boca.

 

Me acompaña emocionado el sacrificio de ser hombre,
para que nunca baje al lugar donde nació la traición
del vil que ató tu corazón a la tiniebla, ¡negándote!




2

 

Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.
Yo bajaré los abismos que me digas.
Yo beberé tus cálices amargos.
Yo me quedaré ciego para que tengas ojos.
Yo me quedaré sin voz para que tú cantes.
Yo he de morir para que tú no mueras,
para que emerja tu rostro flameando al horizonte
de cada flor que nazca de mis huesos.
Tiene que ser así, indiscutiblemente.
Ya me cansé de llevar tus lágrimas conmigo.

 

Ahora quiero caminar contigo, relampagueante.
Acompañarte en tu jornada, porque soy un hombre
del pueblo, nacido en octubre para la faz del mundo.

 

Ay, patria,
a los coroneles que orinan tus muros
tenemos que arrancarlos de raíces,
colgarlos de un árbol de rocío agudo,
violento de cóleras de pueblo.

 

Por ello pido que caminemos juntos. Siempre
con los campesinos agrarios
y los obreros sindicales,
con el que tenga un corazón para quererte.
Vámonos patria a caminar, yo te acompaño.




3

 

Pequeña patria mía, dulce tormenta,
un litoral de amor elevan mis pupilas
y la garganta se me llena de silvestre alegría
cuando digo patria, obrero, golondrina.

 

Es que tengo mil años de amanecer agonizando
y acostarme cadáver sobre tu nombre inmenso,
flotante sobre todos los alientos libertarios,
Guatemala, diciendo patria mía, pequeña campesina.
Ay, Guatemala,
cuando digo tu nombre retorno a la vida.
Me levanto del llanto a buscar tu sonrisa.
Subo las letras del alfabeto hasta la A
que desemboca al viento llena de alegría
y vuelvo a contemplarte como eres,
una raíz creciendo hacia la luz humana
con toda la presión del pueblo en las espaldas.

 

¡Desgraciados los traidores, madre patria, desgraciados.
Ellos conocerán la muerte de la muerte hasta la muerte!
¿Por qué nacieron hijos tan viles de madre cariñosa?
Así es la vida de los pueblos, amarga y dulce,
pero su lucha lo resuelve todo humanamente.

 

Por ello patria, van a nacerte madrugadas,
cuando el hombre revise luminosamente su pasado.
Por ello patria,
cuando digo tu nombre se rebela mi grito
y el viento se escapa de ser viento.

 

Los ríos se salen de su curso meditando
y vienen en manifestación para abrazarte.

 

Los mares conjugan en sus olas y horizontes
tu nombre herido de palabras azules, limpio,
para lavarte hasta el grito acantilado del pueblo,
donde nadan los peces con aletas de auroras.

La lucha del hombre te redime en la vida.

Patria, pequeña, hombre y tierra y libertad
cargando la esperanza por los caminos del alba.

 

Eres la antigua madre del dolor y el sufrimiento.

 

La que marcha con un niño de maíz entre los brazos.

 

La que inventa huracanes de amor y cerezales
y se da redonda sobre la faz del mundo
para que todos amen un poco de su nombre:

 

un pedazo brutal de sus montañas
o la heroica mano de sus hijos guerrilleros.
Pequeña patria, dulce tormenta mía,
canto ubicado en mi garganta
desde los siglos del maíz rebelde:

 

tengo mil años de llevar tu nombre
como un pequeño corazón futuro
cuyas alas comienzan a abrirse a la mañana.
.
Otto René Castillo
1936-1967
publicado por Do-verbo às 23:07

 

 

 

 

Un día, los intelectuales apolíticos de mi país serán interrogados por el hombre sencillo de nuestro pueblo. Se les preguntará sobre lo que hicieron cuando la patria se apagaba lentamente, como una hoguera dulce, pequeña y sola. No serán interrogados sobre sus trajes, ni sobre sus largas siestas después de la merienda, tampoco sobre sus estériles combates con la nada, ni sobre su ontológica manera de llegar a las monedas. No se les interrogará sobre la mitología griega, ni sobre el asco que sintieron de sí, cuando alguien, en su fondo, se disponía a morir cobardemente. Nada se les preguntará sobre sus justificaciones absurdas, crecidas a la sombra de una mentira rotunda. Ese día vendrán los hombres sencillos. Los que nunca cupieron en los libros y versos de los intelectuales apolíticos, pero que llegaban todos los días a dejarles la leche y el pan, los huevos y las tortillas, los que les cosían la ropa, los que le manejaban los carros, les cuidaban sus perros y jardines, y trabajaban para ellos, y preguntarán, "¿Qué hicisteis cuando los pobres sufrían, y se quemaba en ellos, gravemente, la ternura y la vida?" Intelectuales apolíticos de mi dulce país, no podréis responder nada. Os devorará un buitre de silencio las entrañas. Os roerá el alma vuestra propia miseria. Y callaréis, avergonzados de vosotros.




Otto René Castillo
(1936-1967)
publicado por Do-verbo às 19:16

 

 Otto René Castillo nació en la ciudad de Quetzaltenango, Guatemala, en 1936. En 1954, a la edad de 18 años, es exiliado a El Salvador por su oposición al golpe de estado contra Jacobo Arbenz perpetrado por la CIA y tropas mercenarias. En 1958 regresó a Guatemala. Entró a la Universidad de San Carlos a estudiar leyes. Obtuvo una beca para hacer estudios en la antigua República Democrática Alemana. En 1959 inició sus estudios en Letras en Leipzig, Alemania, abandonándolos 3 años después para ingresar a la Brigada Joris Ivens, grupo de cineastas, para la filmación de cortometrajes sobre la lucha armada de liberación de los pueblos latinoamericanos. Regresó a Guatemala en 1964, compartiendo la militancia política con las actividades culturales. Dirigió el teatro Experimental de la Municipalidad de Guatemala. En 1965 es capturado y mandado al exilio, pero las organizaciones revolucionarias lo nombraron representante de Guatemala en el Comité Organizador del Festival Mundial de la Juventud en Argelia. Así, recorre Alemania, Austria, Hungría, Chipre, Argelia y Cuba, donde permaneció algunos meses. En 1966 regresó clandestinamente a su país para incorporarse a las guerrillas de las Fuerzas Armadas Rebeldes (FAR) comandadas por César Montes donde es nombrado responsable de Propaganda del Regional Oriental y responsable de Educación del Frente Edgar Ibarra. El 19 de marzo de 1967 fue herido en combate y capturado por las fuerzas antiguerrilleras del gobierno, y conducido junto con Nora Paiz a la base militar de Zacapa. Ambos recibieron terribles torturas a manos de un capitán del ejército guatemalteco:

"Con una gillette asegurada en una varita de bambú, atado de pies y manos, le cortaban la cara a cada frase que le decían (basándose en el poema Vámonos patria a caminar: Yo me quedaré ciego para que tengas ojos, Yo me quedaré sin voz para que tú cantes). Le gillettearon los ojos, la boca, las mejillas, los brazos y el cuello. Se supo en Guatemala que este ombre -sin h-, se ufanaba contando su hazaña."
La tortura duró 5 días. El 23 de marzo, junto con 13 campesinos colaboradores de la guerrilla, fueron fusilados y luego sus cuerpos quemados.Otto René obtuvo el premio Centroamericano de poesía en 1955, el premio Autónomo en 1956 y el premio "Filadelfio Salazar" en 1958, ambos de la Universidad de San Carlos de Guatemala, y el premio Internacional de Poesía en Budapest otorgado por la Federación Mundial de Juventudes Democráticas en 1957. Su poema Vámonos patria a caminar, yo te acompaño, ocupa un lugar priviligeado en el imaginario guatemalteco, ya que durante la guerra civil, para los que resistían a los gobiernos militares, éste era como un himno contestatorio a la historia oficial.
publicado por Do-verbo às 19:08

 

 

 

 

Otto René Castillo (1936-1967), poeta guerrillero capturado en la Sierra de las Minas con Nora Paiz, su amor, también combatiente, y quemados vivos el 17 de marzo de 1967, durante el gobierno de Méndez Montenegro. De aquel combate según se cuenta sólo salvo la vida el legendario Pablo Monsanto. Vivió 31 años. Dio a su pueblo su canto y su vida. ¿Qué más puede dar un poeta?




 

Luis Cardoza y Aragón. El río: Novelas de caballería.
publicado por Do-verbo às 18:53

Fevereiro 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9
10
11
12
13
14

15
16
17
18
19
20
21

22
23
24
25
26
27
28


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO