Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

16
Dez 14
 

Espena_e_tinteiro.jpgcrever é comunicar.

Quem escreve tem ou supõe ter algo a dizer ao outro.

Quem lê determinará se o que leu foi útil ou uma perda de tempo, do seu tempo de cidadão e leitor.

Escrever é trabalhoso, é mal pago, pode ser um prejuízo material.

Vejamos:

É trabalhoso porque escrever exige horas de estudo e de ponderação, exige consultas e recolha de dados e despesas daí decorrentes;

É mal pago materialmente porque sempre se considerou de somenos o trabalho intelectual; e é mal pago ainda quando não há o reconhecimento por parte das entidades públicas e privadas que da Cultura se reclamam;

Pode ser um prejuízo material quando quem escreve tem de pagar as edições para o seu trabalho chegar ao leitor.

*

Além de quanto antecede, há ainda a situação de quem escreve evitar a edição dita de autor, daí preferir a chancela de uma editora. E esta preferência decorre de ser comum entender-se que a edição de autor determinará menor qualidade do texto editado, pois texto de qualidade terá sempre editora disposta a editar.

Esta verdade feita tem feito o seu caminho na nossa sociedade. Infelizmente.

E aqui levanta-se outra dificuldade para o autor se não for autor consagrado, logo dando garantia comercial ao editor. E a dificuldade é a de ter de pagar a edição e receber uns quantos exemplares do seu livro, os quais, se conseguir comercializá-los, lhe permitirá recuperar o dispêndio. Os restantes exemplares ficarão propriedade da editora, que os comercializará, deles pagando por direitos de autor 10% (ou pouco mais) do preço de capa.

Ponderada esta situação relatada, pergunta-se por que motivo o Estado (do Ministério da Cultura às Juntas de Freguesia) não procura soluções para analisar as obras que lhe sejam submetidas por muitos autores que temos e a esse critério adiram e depois publica as que forem consideradas merecedoras do dispêndio do erário público?

Seria a promoção da palavra escrita e um serviço público à Cultura. E mesmo que seja de atender ao binómio custo-benefício, retorno haverá, certamente.

Evidentemente que para além da palavra escrita, outras actividades na área da Cultura deverão merecer a mesma ponderada atenção.

Aqui fica, para que conste.

Até sempre!

Gabriel de Fochem

Alentejo, 15 de Dezembro de 2014.

publicado por Do-verbo às 20:35

28
Nov 14

Eternidad.jpg

 

Quem tem olhos, que veja!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Exortações antigas que conheço desde que me aventurei na leitura dos textos bíblicos. Excelentes exortações, concedo, até porque muito convém sabermos o que se passa. É verdade, quem anda distraído neste mundo de cristo sem cristo, está perdido se não decidir optar por uma postura atenta!

Se tudo isto convém, não é menos verdade que vamos ouvindo, aqui e ali, confidências que nos desgostam e melhor seria não as termos ouvido…

Ou vamos  vendo, também aqui e ali, o que teríamos desejado não ver… porque «olhos que não vêem, coração que não sente»… (Ah, este rifão cruel, tão cruelmente verdadeiro, quantas vezes!...)

Nesta altura da vida, vida já longa, decidi afastar-me, na esperança de me poupar a desgostos. Mas sempre alguma situação se me depara abruptamente; sempre alguma inconfidência insolitamente me chega… E fico triste, mais triste ainda, por mim e pelos outros. Pelos outros que esperam e desesperam; pelos outros que confiam até ao desespero da frustração!

O desaforo implantou-se.

Como já tenho obrigação de saber, «um homem sozinho não vale nada». E porque estou sozinho, logo nada valendo, suporto o desaforo. Suporto porque não tenho alternativa.

Tempos virão, porque a decadência não é o fim da História, mas apenas a desagregação duma situação, dum tempo que morre, dum tempo que morre sem deixar saudades… Tempos virão e com eles quem nos julgará e condenará.

E aqui será obrigatório citar Brecht? Se sim, oxalá que os vindouros, quando nos julgarem, nunca esqueçam o tempo escuro a que escaparam... 

 

-/-

 

Gabriel de Fochem

27 de Novembro de 2014.

Alentejo*Portugal

 

publicado por Do-verbo às 16:44

26
Nov 14

Depressão.jpeg

 

O objectivo principal será sempre tentar saber: como se chegou aqui; como se está aqui; como sair daqui.

Como se chegou aqui?  Que causas terão determinado uma caminhada que não conseguiu alcançar os objectivos propostos à partida?

Como se está aqui?  Em que condições estamos aqui, agora?

Como sair daqui?  Que condições há para ultrapassar a situação e de que meios dispomos para o conseguir?

Ponderando as respostas a estas três interrogações, será possível uma avaliação da situação e perspectivar um modo de agir racional.

Voluntarismos e desenrascanços nunca foram um modo sustentado de agir. Ou estoutra, também sua aparentada: «quem não tem cão, caça com gato». 

Esta reflexão decorre do muito que vou vendo e só nos tem conduzido a desaires.

Se contribuí com esta reflexão, fico satisfeito por ter sido útil; se não consegui, que siga a dança!

Até sempre!

Gabriel de Fochem

26 de Novembro de 2014.

Alentejo, Portugal

publicado por Do-verbo às 22:36

14
Out 14
«Conquistar o Poder é fácil; difícil é conservá-lo.»
 

poder.jpg

Talvez seja oportuno debruçarmo-nos sobre o alcance desta frase tão usada na dita Ciência Política: «Conquistar o Poder é fácil; difícil é conservá-lo.»

Situemos a frase no âmbito democrático, para evitarmos derivas armadas.

Posto isto, ficará claro que quem concorre num acto eleitoral, conquistará o poder se ganhar a eleição.

Situada a questão, outra se levanta: por que será difícil conservar o Poder obtido no acto eleitoral?

Aqui, teremos de meditar: que motivo ou motivos poderão levar os cidadãos a alterar o seu sentido de voto, isto é, a votarem noutro candidato, em eleições futuras.

Excluindo questões de alienação ou de caciquismo, o eleitorado terá aceitado como razoáveis as propostas do candidato, daí delegar nele a responsabilidade da condução do destino colectivo ou de qualquer outro que esteja em causa.

Ora, chegado o tempo de novo acto eleitoral, os cidadãos, avaliado o trabalho do eleito, decidirão de novo. Se a avaliação for positiva, será muito provável que optem pela reeleição; se for negativa, haverá fortes possibilidades de optarem pela mudança.

De forma simples e esquemática, será assim.

Optei por colocar a questão com simplicidade porque determina a sabedoria e a experiência que sempre se deve partir do simples para o complexo. Parece-me isto tão certo quanto é certo que se faz uma casa partindo dos alicerces para o telhado e nunca o inverso.

Sei, naturalmente, que o tema deste registo é do conhecimento geral. Se me propus falar dele foi por ter sérias dúvidas de que os meus concidadãos o tenham sempre presente, designadamente em períodos eleitorais.

Convirá esclarecer que não estou querendo «ensinar o Pai-nosso ao cura». Aqui, apenas crio oportunidades para «falar» com os meus concidadãos que fazem o favor de me ler.

Até sempre!

Cordialmente,

Gabriel de Fochem
13 de Outubro de 2014.
 
publicado por Do-verbo às 17:37

máscara.jpeg

 

Ou muito me engano ou deverá estar prestes algum juízo final doméstico. Não é chalaça o que digo. E esta minha suspeita deriva da leva de arrependidos que anda por aí, arrependidos das malfeitorias de que foram actores ou aplaudiram ou a que passivamente assistiram.


Cansei destes arrependidos que se põem a salvo como se algum naufrágio ameace o navio em que embarcaram para o cruzeiro de mau gosto a que assistimos incrédulos.

Pois é! «O amor é eterno enquanto dura.» (E aqui convoco o poeta e escritor francês Henri de Régnier, 1864-1936, que escreveu «L’amour est éternel tant qu’il dure»). Pois é! Tal qual este cruzeiro dos arrependidos, que anteviram saboroso e agora se lhes desnuda azedo até à náusea.

Sabemos que estes arrependimentos são cíclicos. Logo, logo, ao cais do desplante outro navio atracará para receber veraneantes para mais um aliciante cruzeiro.

O milenar «estás perdoado; agora, vai e não peques mais» é o hábil vaivém dos instalados ou, como dizia frequentemente um velho amigo já desaparecido, dos que «são desta opinião e da contrária se assim convier».

Adolescente ainda, aprendi com o poeta Guerra Junqueiro, no seu livro «A velhice do padre eterno», o que reputo de máxima a ponderar seriamente: «Um justo não perdoa, julga.»

Claro que sempre há quem se engane no caminho e terá o direito de corrigir a rota. O que não entendo bem é como há quem só verifique o erro quando o fogo lhe chega aos fundilhos. E destes eu desconfio…

Até sempre!

Gabriel de Fochem
14 de Outubro de 2014.

publicado por Do-verbo às 15:47

27
Set 14

 

Recupero de texto já publicado a excelente frase de um meu conterrâneo: «Só todos juntos sabemos tudo.»

Arrisco afirmar que esta frase tem um alcance invulgar e, por isso mesmo, deveria figurar em todos os manuais de conduta.

Várias vezes, em conversas com gente da minha gente, encontro sugestões que considero de grande valia conducentes a aprofundar situações e a estudar soluções.

Evidentemente que estas conversas dificilmente chegarão ao conhecimento de quem conduz os nossos destinos colectivos.

E se aqui não discuto a legitimidade de quem tem o poder de decidir, já discuto a perda destas sugestões, até porque relevarão em valia muitas das decisões que são tomadas.

Todos sabemos ser tarefa de qualquer poder político a gestão quanto baste das necessidades correntes; mas também todos sabemos que qualquer força política tem a sua ideologia e desta decorrem definidas propostas de melhoria de uma qualquer situação em análise, das muitas situações que existem e que vão muito para além das supracitadas necessidades genéricas correntes.

Por tudo isto, será de colocar estas interrogações:

Como chegámos aqui?

Por que chegámos aqui?

Será que o Povo aceita passivamente quanto o Poder Político decide?

Que motivos levaram o Povo ao distanciamento, ao afastamento da res publica?

Que motivos levaram o Povo a assumir posições claras nos actos eleitorais, quer abstendo-se, quer votando em branco, quer votando nulo, em percentagens relevantes?

Será que as forças políticas estão esticando a corda até esta se partir?

Será que as forças políticas se recusam a ver que estão deficientemente servindo a democracia --- Democracia enquanto Poder do Povo?

Se, etimologicamente falando, Democracia é igual a Poder do Povo, fica claro que democracia sem povo é coisa nenhuma. E é isto que me preocupa enquanto cidadão.

Até sempre!

Gabriel de Fochem

26 de Setembro de 2014.

publicado por Do-verbo às 16:14

20
Set 14

Depressão.jpeg

 

Diz a sabedoria popular que «quem semeia ventos, colhe tempestades». Isto é, dito de outra maneira: há os que provocam as situações e depois se queixam das consequências.

Há outra aparentada: a de quem provoca ardilosamente uma situação e, depois, se obtém o êxito esperado,  responsabiliza o(s) incauto(s).

Estas serão as mais perigosas e poderão ter, porventura, a sua fixação no aforismo «paga o justo pelo pecador». Assim me arrisco a supor no sentido doloso que assume a autoria da armadilha contra a credulidade e talvez imprevidência de quem nela cai ou dela é vítima.

Tudo que digo decorre de quanto tenho notícia.

Ora sabemos o que vai pelo mundo nestes tempos que temos de viver. Exactamente por isso, apenas aqui registo o que todos sabemos, ainda que, é bem verdade, todos nós, de vez em quando, sejamos vítimas desta ou daquela armadilha, quer por distracção, quer por absorvidos por preocupações.

Que fique claro que neste e noutros registos não pretendo rotular ninguém de ignorante e muito menos ensinar seja o que for. Não julgo ninguém, porque não sou juiz; não ensino ninguém, porque não sou professor. Sou apenas um cidadão que presume ter aprendido o que Sócrates, o tão justamente celebrado filósofo grego, ensinou a toda a Humanidade, entre outras coisas: «Eu só sei que nada sei.»

Até sempre!

Gabriel de Fochem

publicado por Do-verbo às 22:43

07
Set 14

 

A reflexão que o leitor lerá a seguir decorre de uma casualidade, casualidade relevante, porque me permitiu alinhavar estas considerações, que  partilho.

 

Ouvi, há dias, um diálogo curioso. Não cometo nenhuma inconfidência ao referi-lo, porque ocorreu em lugar público e sem qualquer indício de sigiloso. Nem o tema era merecedor de recato.

O tema em discussão era definir o perfil de um candidato a um cargo directivo. Como bem se compreende, tema importante; e a preocupação igualmente compreensível.

É importante o perfil de um candidato e não menos importante é votar num candidato com perfil ajustado à função a que se propõe.

O interessante do diálogo era a preocupação incidir sobre a popularidade do candidato a encontrar. Em boa verdade, não foi manifestada preocupação pela capacidade.

Este meu reparo coincidirá com algumas observações habituais de muitos eleitores sobre candidatos: “este é simpático”; “aquele nunca se ri”; “não gosto da cara daqueloutro” ; e por aí…

Nada tenho a opor às apreciações que cada um faz e declara ou cala. Tenho, sim, que sejam ou possa ser determinantes na sua decisão de votar.

Sustento, e muitos me acompanham nesta posição, que a decisão de votar, de escolher, afinal, deve assentar na competência e nos valores que qualquer candidato comprovadamente defende.

Mais sustento, e aqui também não estou sozinho, que deveremos mais privilegiar a prática quotidiana do candidato do que os seus discursos de campanha.

Sustento ainda, e finalmente, que será sempre ideal questionar o candidato, de preferência em sessões de esclarecimento, porque as respostas que der às perguntas que lhe forem dirigidas serão matéria para reflexão e posterior decisão quando o eleitor for chamado a votar, isto é, a escolher quem considera mais apto para o cargo político ou outro.

Espero que o leitor não esteja propondo meditação sobre a inexistência de sessões de esclarecimento. Se for esse o caso, dir-lhe-ei que um candidato que se oponha a sessões de esclarecimento não terá o meu voto.

Até sempre!

Gabriel de Fochem

7 de Setembro de 2014.

publicado por Do-verbo às 19:17

10
Ago 13

 

 

Quando imposto, o silêncio é coisa séria. Da minha passagem pela Imprensa diária, na já distante década de sessenta, recordo uma directiva recebida dos Serviços de Censura, que dizia mais ou menos, cito de memória: a partir deste momento, é expressamente proibida qualquer referência ao senhor dr. José Afonso. Assim mesmo, aqueles senhores silenciavam, mas tinham estes requintes, por vezes, claro, por vezes...

Sabemos que silenciar alguém é prática velha e serve, evidentemente, para anular as vozes incómodas. E a incomodidade tanto pode decorrer da falta de paciência para escutar dislates, como da considerada inoportunidade de algumas intervenções.

Sabemos do velho grito «O rei vai nu!» Todos viam, mas não era conveniente afirmá-lo. Ganhava a conveniente dissimulação. 

Isto de dizer a verdade inconveniente é coisa perigosa e conhecida desde há muito. Quem não ouviu dizer que cortaram a cabeça a São João, o baptista, por dizer a verdade? Pois é, quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos. 

Do meu canto, tento acompanhar o dia-a-dia desta inditosa pátria tão mal amada. Que me perdoe o Luís de Camões, mas veio a propósito distorcer a sua memorável e sentida manifestação de amor a Portugal. Amor não correspondido, aliás, ontem e hoje. Isto de amar o torrão natal e as suas gentes nem sempre á coisa pacífica. E o mais curioso é que esta inconveniência é como o vento -- sopra daqui, sopra dali... e, quantas vezes, já nem sabemos como e onde abrigar-nos da ventania.

Seja como seja, mais mal do que já fizeram não poderão fazer os agentes eólicos.

Do meu canto, tento estar atento e paciente, aguardando que passe o temporal. E de temporal em temporal, mais agredido, menos agredido, vou resistindo até ao juizo dito final. Até lá, siga a dança! E se a morte vier, que venha! Sabemos, também, é da sabedoria popular, que se queres ser bom, morre ou vai-te embora! Eu cá estarei quando vier esse consolo! Eu e muitos mais, porque não sou exemplar único...

Até sempre!

 

Gabriel de Fochem

10/8/2013.

NOTA: Imagem Internet, com a devida vénia

publicado por Do-verbo às 17:01

15
Jun 13

 

 Neste final de jornada, quando supunha nada mais caber no meu bornal, a surpresa vem. E já não valia a pena. Não porque a sobrecarga seja pesada; apenas porque já nada acrescenta. É aquela situação de quem é surpreendido por uma trovoada, num descampado: depois de chover uns minutos, os restantes, muitos ou poucos, já nada acrescentam à molha.

No monte, os dias trazem-me a monotonia de um tempo parado.

As notícias que me chegam, ainda que poucas, confirmam-me a monotonia.

O dia é o resultado do fatal movimento de rotação; o ano é o resultado do fatal movimento de translação. Assim sendo, nada de novo sob o sol. Mas os dias e os anos, para além do fatalismo planetário, dão-me coisas bonitas: os passarinhos chilreiam, felizes; as flores insistem em maravilhar-me com os seus aromas e as suas cores; «todo o sol do Alentejo» me encanta em apoteoses de cor. Pois, na contemplação, tudo bem.

Na acção, retenho do poema do grande Poeta Miguel Torga sobre Bartolomeu Dias, a fatal conclusão: um herói sem remate. Inevitável. É da sabedoria que não se pode pedir o que se não tem para dar.

Nestes dias quentes, fico-me à sombra, olhando a estrada deserta. Uma andorinha ensaia acrobacias. Como lhe é fácil ser acrobata e como é difícil a tanta gente dar o passo certo no momento certo!

Só, deixo-me entontecer pela tremulina.

Até sempre!

 

Gabriel de Fochem

15/6/2013.

publicado por Do-verbo às 23:55

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