Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

30
Set 07

Escolhi este velho aforismo para título do que Hugh Thomas regista no seu livro A GUERRA CIVIL DE ESPANHA, publicado em Portugal pela Editora Ulisseia, sob tradução de Daniel Gonçalves.

 

 

«No dia 15 de Agosto (de 1936), a bandeira republicana foi substituída pela bandeira monárquica. Numa cerimónia solene, em Sevilha, Franco apresentou-se na varanda dos Paços do Concelho, beijou várias vezes a bandeira e gritou para a multidão concentrada na praça: «Aqui está! É nossa! Queriam privar-nos dela!» O cardeal Ilundaín, de Sevilha, beijou também a bandeira. Depois Franco prosseguiu: «Esta é a nossa bandeira, aquela à qual prestámos juramento, aquela por que morreram nossos pais, cem vezes cobertos de glória.» Franco terminou com lágrimas nos olhos. Queipo de Llano falou depois e perdeu-se numa série de desatinos sobre as diferentes bandeiras que tinham representado a Espanha em várias épocas. Finalmente comparou as cores monárquicas com «o sangue dos nossos soldados, generosamente derramado, e o solo da Andaluzia, dourado de trigais. Encerrou a arenga com as suas habituais referências à «ralé marxista». Durante este discurso, Franco e Millán Astray, o fundador da Legião Estrangeira (que voltara da Argentina depois do levantamento), que se encontravam ao lado de Queipo, tiveram dificuldade em reprimir o riso. Queipo concluiu declarando que a intensa emoção que sentia o impedira de fazer o género de discurso que tinha em mente. Falou depois Millán Astray, um homem em cujo corpo eram mais a lacunas da carne arrancada pela metralha do que as partes que lhe restavam relativamente intactas. Só tinha uma perna, um braço, um olho e poucos dedos na única mão que ainda conservava. «Não temos medo deles», bradou. Eles que venham e mostrar-lhes-emos do que somos capazes debaixo desta bandeira.» Ouviu-se um brado isolado: «Viva Millán Astray!» «Que vem a ser isso?, gritou o general. Nada de vivas para mim! Mas digam todos comigo: Viva la muerte! Abajo la inteligencia!»

 


Federico Garcia Lorca seria assassinado três dias depois, na mesma Andaluzia (arredores de Granada)...
*
publicado por Do-verbo às 21:56

24
Set 07

 

 

 

 

 
As teorias do comportamento

 

concedem ao sentir-estar-agir

 

perfis evolutivos, num devir

 

que se projecta instante e movimento.

 

 

 

Mover nem sempre quer determinar,

 

no gesto e no contexto, o progredir.

 

Nem sempre um passo atrás é regredir,

 

nem sempre um passo em frente é avançar.

 

 

 

Sentir é perceber,

 

estar é a postura,

 

agir é a acção...

 

 

 

E tudo são propostas a reter,

 

constante conjuntura

 

de que depende a nossa condição.

 

 

 

 

 

publicado por Do-verbo às 16:30




 

Nem um palmo tinha

de terra que fosse minha!

A lonjura das herdades

ganhava ao longe da vista...

E o sangue do meu suor

a tudo deu de beber!

Não há homem que resista

quando tudo tem de dar

e nada que receber!

Quando até o pão que é seu

é obrigado a pagar..

Fui a gleba, fui a fome

Não tinha terra nem nome...



José-Augusto de Carvalho
In «arestas vivas», 1980.

publicado por Do-verbo às 06:09

19
Set 07

Aquela madrugada, que tanto prometia, trouxe um alento indescritível aos humilhados e ofendidos. Era o fim do pesadelo, era o acordar ao sol de um dia lindo de primavera! E o Povo saiu à rua, reencontrando-se, e abraçou-se, sem hesitação nem timidez.

O Bastião do Carmo caiu! Mas essa queda trouxe o primeiro espinho da rosa anunciada na cedência do Movimento Militar ao então General António de Spínola. Acontecimentos ulteriores demonstrariam que não houvera qualquer alteração na personalidade do Presidente da Junta de Salvação Nacional. O general não pôde ou não soube redimir-se do seu passado de «observador», na mal dita Guerra Civil de Espanha, junto das tropas fascistas, nem em Estalinegrado, também junto das tropas sitiantes do III Reich. O Povo, crédulo e ignorante, aceitou-o como primeiro Presidente da República de Abril.
Em 28 Setembro de 1974, o mesmo Povo ficou a saber que havia uma «maioria silenciosa». Era a minoria daqueles que estiveram sempre com a ditadura fascista, há meses expulsa do Poder. E, como seu «inspirador», lá estava o general António de Spínola. Com esta «jogada democrática», o general ficou sem condições de exercer o cargo de Presidente da República de Abril... e renunciou.
Entretanto, os partidos políticos representados no Governo de Vasco Gonçalves não se entendiam na clarificação dos caminhos apontados pela madrugada de Abril.
Em 11 de Março de 1975, o general «inspirador» de nova «jogada democrática», é obrigado a refugiar-se em Espanha, ainda a Espanha fascista de Franco. E o Movimento Militar determinou a tomada de medidas enérgicas, designadamente junto do poder económico capitalista. Todavia, agudizavam-se as querelas entre os partidos. E entre os militares, também. O chamado Grupo dos Nove foi o segundo espinho da rosa. E Vasco Gonçalves é substituído. Com Pinheiro de Azevedo, Abril caminha inexoravelmente para o ocaso.
Em 25 de Novembro de 1975, o ajuste de contas é implacável. O General Ramalho Eanes será eleito o primeiro Presidente da República de Novembro. E depois, até hoje, cresceram na rosa vários espinhos.
O Povo, desiludido, resignou-se. E vai votando, de 4 em 4 anos, maquinalmente, a perpetuação do Portugal de Novembro, que se não cansa de anunciar o frio e o desconforto do inverno de Dezembro, democraticamente...
Até sempre!
Gabriel de Fochem
19/9/2007.
publicado por Do-verbo às 16:43

14
Set 07

 

É do conhecimento de todos nós que quem publica está expondo-se perante quem o lê e também está sujeito a comentários, ora favoráveis, ora desfavoráveis.

Estou naturalmente prediposto a aceitar todos os comentários. Até porque neles poderei avaliar a aceitação e a rejeição críticas que os textos publicados merecem.

Não estou, evidentemente, disponível para, neste espaço gentilmente cedido, permitir comentários que ofendam os mais elementares preceitos éticos.

Na certeza de que esta posição ora assumida será subscrita por todos os que se reclamam paladinos do civismo, aqui fica o meu abraço.

Até sempre!

José-Augusto de Carvalho

publicado por Do-verbo às 11:10

Como o tempo passa! Estou envelhecendo. Ainda me parece que foi ontem o tempo em que os senhores do Poder Local eram designados pela estrutura da União Nacional local ao Governador Civil do Distrito e este solicitava a sua nomeação ao Ministro do Interior! Vivia-se o tempo da castração e do marasmo. Há histórias deste tempo por contar.

Com a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, o Estado Novo foi apeado. E o povo pôde escolher os seus representantes livremente. E assim continuamos. Surgiu, então, um Poder Local polícromo, ao sabor das cores das bandeiras partidárias da preferência das populações.

Era de supor que as políticas desenvolvidas fossem conformes à coloração, num confronto saudável de propostas e perspectivas diversas. O tempo encarregou-se de demonstrar que nem sempre foi alcançada a competência no desempenho e no cumprimento do prometido.

Para além dos deveres básicos, comuns a qualquer coloração, o desencanto das populações é mais vincado no incumprimento das propostas de carácter ideológico. E esta afirmação é confirmada pela sentença popular muito em voga: «eles são todos iguais». E aqui chegamos a uma situação perigosa. É que não basta rejeitar a sentença popular. É urgente convencer as populações de que estão erradas, mas com acções determinadas e determinantes.

Objectivamente, a acção duma autarquia tem de corresponder à matriz ideológica da sua força política dominante, a fim de demonstrar a justeza da sua proposta e justificar o apoio recebido no sufrágio.

No Ensino, na Cultura, na Saúde, no Trabalho, no Lazer, etc., são diferentes os caminhos ideológicos propostos pelos Partidos Políticos.

Esperemos.

Gabriel de Fochem
publicado por Do-verbo às 11:02

"O que mais me preocupa não é o grito dos violentos,
 
 
nem dos corruptos,
 
 
nem dos desonestos,
 
 
nem dos sem-carácter,
 
 
nem dos sem ética.
 
 
O que mais me preocupa é o silêncio dos bons."
 

Martin Luther King
publicado por Do-verbo às 00:07

13
Set 07

 

Repto.jpg

 

Deste espaço,

digo continuar aguardando 

que a Burguesia no Poder

tenha a coragem de comemorar 

o Golpe de Estado do seu 25 de Novembro de 1975, 

afrontando, de vez, a saudade

da Revolução dos Cravos.



José-Augusto de Carvalho

Alentejo

publicado por Do-verbo às 23:22


"O ouro de um palácio é a fome de um casebre."


José Duro


(Poeta alentejano, de Portalegre, falecido em Lisboa, 1899.)
publicado por Do-verbo às 23:13

11
Set 07


Hoje, 11 de Setembro de 2007, apenas se assinala o acto terrorista que ocorreu em 2001, nos Estados Unidos da América?
E aqueloutro acto terrorista ocorrido em 1973, no Chile?
Aqui fica o meu alerta, para que conste.

José-Augusto de Carvalho

publicado por Do-verbo às 16:16

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