Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

30
Nov 08






Agora vou e nunca mais hesito.
Agora vou rasgar o meu caminho.
Agora vou abrir ao infinito
as grades da gaiola deste ninho.

Irei além de mim e do interdito,
gritando que este mundo em desalinho,
ainda que sufoque este meu grito,
terá de abrir à Vida outro caminho!

Não mais os campos nus e abandonados!
Não mais aneis em volta da cidade
onde vegeta a fome e os deserdados!

Não mais um mar vazio de ansiedade
e barcos à deriva naufragados,
apodrecendo aos pés da indignidade!



José-Augusto de Carvalho
29 de Novembro de 2008.
Viana * Évora * Portugal

publicado por Do-verbo às 22:22

26
Nov 08


Sal e azar foi a comida
que existia para mim
e que depois foi mantida
na espelunca do delfim.

Depois, comi como gente,
mas foi sol de pouca dura...
E hoje não sei se sou gente
ou uma cavalgadura!

Aves, ovinos... -- que praga! --
foram mais outros azares.
De sabor a povo, a vaga
era gasosa... só ares!

E no fim da minha estrada,
quem quer por verdade, agora,
a sentença requentada
de que só mama quem chora?


José-Augusto de Carvalho
Viana * Évora * Portugal
(In baú do esquecimento)
publicado por Do-verbo às 22:17

24
Nov 08



A chaga aberta dói e sangra tanto,
ainda que no tempo passem anos!...
Do chão do nada, a custo já levanto
a safra de aflições e desenganos.

No peito, o coração, teimando, bate!...
Teimando, bate, bate, e não se cansa!
Nem dor nem desalento o sonho abate
dos cravos desta pátria em esperança!...

Dos fastos e desastres, a memória
de um povo erguendo a pátria à dimensão
da gesta humana em páginas de História!...

E neste cais de outono e solidão,
que fado nos impede agora a glória
de ousar no pátrio chão mais um padrão?


José-Augusto de Carvalho
24 de Novembro de 2008.
Viana * Évora * Portugal
publicado por Do-verbo às 22:37

23
Nov 08

Quem viveu os dias sombrios do salazarismo e neles, sob ameaças e medos e angústias e sobressaltos, se ganhou em acções perspectivadoras de primaveras prenhes de anseios e dias de claridade, saberá do que falo.

Alerta, a delacção, aquartelada a cada esquina. Doía vivermos um tempo em que até desconfiávamos da própria sombra. Acabrunhávamo-nos a cada notícia que passava as malhas da censura, quase sempre através das rádios de além-fronteiras.

Vivíamos num país onde se queria que nada acontecesse. E tanto assim era para tantos, que é vulgar ouvirmos os incautos dizerem, hoje, ainda, que antes não havia tantos problemas como os que a Informação falada e escrita agora noticia.

Com a Revolução dos Cravos, chegou a liberdade de expressão e de associação. Finalmente, vivíamos em Liberdade. Da noite da opressão, saltaram os livros proibidos, as cancões proibidas. As portas das prisões abriram-se de par em par e o delito de opinião foi abolido.

O clandestino Avante!, o único jornal português que nunca foi vítima do famigerado lápis azul da Censura, saltou para as bancas.

O Partido Comunista e o recém-formado Partido Socialista apareceram à luz do dia. Outros Partidos Políticos se formaram. A Democracia Pluralista estava aí!

Agora, o Povo poderia conhecer os programas propostos e optar por eleger como seus representantes aqueles que considerasse mais aptos para defenderem os seus interesses e materializarem os seus legítimos anseios.

Os mais empenhados na res publica aderiram à militância partidária, no esforço colectivo que a Democracia exige.

Ainda hoje estão na nossa memória os nomes de muitos, uns que já não estão entre nós, outros que as circunstâncias afastaram.

Trinta e quatro anos é tempo!

Falar dos dias de hoje é desnecessário. Todos vivemos o dia a dia e sabemos das esperanças adiadas, das frustações diversas, do dia de amanhã comprometido por dificuldades.

Nestes tempos difíceis, onde todos não somos de mais, importará saber o porquê do afastamento de tantos. Por acomodação? Por cansaço? Por desencanto?

Ouvimos amiúde falar de rejuvenescimento, o que poderá equivaler ao afastamento de gente experimentada, de gente que conheceu o antes e o depois. E vemos, com alguma frequência, situações de debilidade em quantos que, assumindo cargos de responsabilidade, acusam a inexperiência decorrente dos seus verdes anos.

A Juventude é generosa. Sempre o foi. Mas será avisado atribuir-lhe funções que exigem aprofundado amadurecimento?

Será avisado entregar o leme da barca ao aprendiz de marinheiro? Saberá ele ler nas estrelas o rumo certo? Conhecerá ele os escolhos e baixios encobertos pelas águas? Já terá ele ouvido falar de ventos e correntes e procelas onde se acobertam naufrágios? Saberá ele defender-se dos enganadores e quase sempre mortalmente perigosos cantos das sereias?

Todos sabemos que navegar é preciso!

Mas não foi um aprendiz de marinheiro que dobrou o Cabo das Tormentas.

O homem do leme é sempre mais do que ele-mesmo, é sempre um Povo que navega rumando a Porto Seguro.

Até sempre!
 
Gabriel de Fochem
publicado por Do-verbo às 02:57

22
Nov 08

 

Vai distante o tempo do jornalismo dito de referência. Formava e informava os seus leitores. Infelizmente, o sensacionalismo, a especulação desenfreada, o dize tu... direi eu... e os critérios mais do que discutíveis de publicação contaminaram a Informação.

 

Outrossim os jornais regionais perderam o seu espaço próprio de abordagem dos problemas mais ou menos locais.

 

Hoje, é a blogosfera que está na moda.

 

«Blogosfera é o termo colectivo que compreende todos os weblogs (ou blogs) como uma comunidade ou rede social. Muitos blogs estão densamente interconectados...», informação obtida no Google.

 

Qualquer pesquisa nos possibilita encontrar espaços (blogs) responsavelmente assumidos, onde se opina, se discute, se divulga, etc.

 

Infelizmente, outros encontramos, onde, a coberto do anonimato, andam à solta a injúria, a calúnia, a desinformação, etc. É a lei da impunidade, propiciadora do advento daqueles que se permitem chafurdar no pântano, seguros de que não serão responsabilizados.

 

É uma lástima!

 

Pese embora tudo isto, é sabido que a ausência de Informação credível conduz à conjectura, à especulação, à invencionice, à maledicência...

 

Vivemos tempos difíceis, tempos de carência moral, social, material e política. Vivemos o tempo dos espertalhões, que trepam e se alcandoram a plataformas de evidência, donde se comprazem
a debitar sofismas e mediocridades.

 

Vivemos os tempos da música pimba, quiçá a mais elaborada continuadora do nacional-cançonetismo de triste memória. E é vê-la, triunfante...

 

--- nos palcos das tv, incluindo a pública;

 

--- nas estações de rádio, também incluindo a pública;

 

--- nos palcos dos municípios, incluindo o nosso.

 

Vivemos os tempos de plástico e dos descartáveis, incluindo quem trabalha.

 

Vivemos os tempos onde o Poder dá garantias de perenidade ao que não presta e ignora as potencialidades do país sofrido e resignado.

 

Vivemos os tempos que se demoram de mais na nossa existência ansiosa de Vida, de Cultura, de Dignidade, de Justeza.

 

Até sempre!

 

Gabriel de Fochem
publicado por Do-verbo às 19:11

21
Nov 08

 

1
Pisamos estas calçadas há muitos anos. Estas calçadas, hoje encobertas por uma camada de alcatrão, que as enluta. Não vem ao caso condenar, agora, o autor desta barbaridade, mas, sim, perguntar se este atentado se eterniza.
Todos sabemos que um pavimento em pedra dura séculos e permite a infiltração de parte da pluviosidade.
Todos sabemos que o pavimento de pedra, quando há necessidade de ser removido, facilmente se repavimenta e nunca apresentará remendos.
Todos sabemos que o alcatrão, devido ao atrito, provoca a contaminação do ar que respiramos.
Todos sabemos do pó negro (alcatrão) que limpamos nas nossas casas.
Porque em qualquer gestão é fundamental atender à questão custo/benefício, em quanto importa, anualmente, a manutenção de uma calçada e em quanto importa, também anualmente, a manutenção do tapete de alcatrão?

2
Nesta época de democracia formal, ainda temos a possibilidade de questionar os eleitos. Sobre o pavimento das ruas e sobre tudo o mais.
Tal como há o debate do estado da nação, para quando o debate do estado da autarquia? É uma discussão que está por fazer e que seriamente deverá ser permanente.
Não auscultar os anseios da comunidade é um modo perverso de agir.
Não propiciar a participação da população é castrar o direito de cidadania.

3
Assistimos ao Poder, a todos os níveis, agindo de modo autista. Não houve ninguém; nada pergunta; tudo sabe.
O povo-eleitor é chamado a votar de quatro em quatro anos e aí se esgota a sua participação na res publica.
Não queremos acreditar que a política dita partidária esteja perigosamente a esgotar-se, ainda que o seu funcionamento em circuito fechado claramente demonstre que algo está mal no Reino da Dinamarca. E porque assim é, não será despiciendo ponderar, a curto ou médio prazo, a criação de um movimento de cidadania que livremente aja a contento. E nada seria de extraordinário neste município onde está bem presente ainda a acção criadora do movimento liderado por António Isidoro de Sousa.

4.
Pisamos estas calçadas, todos nós, cidadãos preocupados com o nosso presente e com o nosso futuro.
Se o Poder que nos representa não souber merecer a nossa confiança, o caminho será tomarmos nas nossas mãos o nosso destino colectivo.

Até sempre!

Gabriel de Fochem

publicado por Do-verbo às 00:06

11
Nov 08

 

O jornal Correio da Manhã, de Lisboa, na sua edição do passado dia 6 deste decorrente mês de Novembro, publicou uma notícia subordinada ao título Craques pagos a peso de ouro.
Ora, eu sou pouco ou nada informado nestas coisas do mundo do pontapé na bola. Ouço dizer, vagamente, no estafado diz-se... que por lá se auferem salários e se obtêm prémios e prebendas que ascendem a quantias muito para além da decência, atendendo, naturalmente, à situação económico-social que se vive. Evidentemente que sei que neste paraíso de democracia capitalista a máxima que impera é cada um safa-se como pode ou qualquer outra do mesmo género. Mas mesmo sabendo ou supondo saber das leis deste paraíso, confesso ter ficado chocado com os salários divulgados.
Em Portugal, os salários irão de 150.000 a 75.000 euros. Apenas os salários.
E esta situação ocorre num país onde o salário mínimo nacional não atinge 450 euros.
E, ao que parece, tudo bem como dantes, quartel-general em Abrantes.
Ninguém diz nada de nada; as estações televisivas são um regabofe de notícias do pontapé na bola.
A estação televisiva estatal permite-se abrir telejornais com o futebol, democraticamente... Certamente por isso, durante o bafiento salarazismo nunca a tal se permitiu. Uma vergonha nacional.
Mas há mais.
Façamos, com maldade, umas continhas:
 
Um salário de 450 euros x 14 meses = 6.300 euros
 
6.300 euros (total de 1 ano) x 40 anos = 252.000 euros.

Chegados aqui, verificamos que há, em Portugal, quem aufira, por mês, o que a esmagadora maioria dos trabalhadores ganharia quase em toda uma vida activa de labuta.

Esta é uma das vergonhas que todos fingem ignorar.

Esta é, entre outras, uma vergonha deste povo-país!
 
Até sempre!
Gabriel de Fochem
9 de Novembro de 2008.
publicado por Do-verbo às 16:07

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