Aqui chegado em anos vividos, já pouco me surpreende e já muito me desgosta. Longe vai o tempo da esperança pela esperança ou da expectativa pela expectativa. A vantagem dos anos vividos assenta no capital de desenganos e logros. Capital doloroso, evidentemente, mas indispensável como prevenção.Um ou outro momento de ventura ou encantamento dulcificam a vida, suavizando o quotidiano, mas nada acrescentam à dignidade colectiva.Não há pessimismo nem desalento, há, com a possível lucidez, a análise do dia a dia. Do meu dia a dia e do dia a dia dos demais.Os determinismos da rotação e da translação são indiferentes e alheios ao objectivo humano de viver com dignidade e com a possível satisfação.Com Bocage, aceito que «os homens não são maus por natureza». E reconheço ser o meio a condicionar o Homem. Há valores que se ganham e há valores que se perdem. É imperioso conhecer as causas destas perdas e não só enfrentar os seus efeitos.Nos textos (ditos) sagrados e nos profanos, encontram-se relatos da condição humana. Dos seus fastos e das suas misérias. É de sempre o exemplo de quem vive uma vida inteira por uma causa nobre e de quem muda de causas com a conveniência de quem muda de farpela.Aqui, curvo-me perante a nobreza de carácter.Aqui, e não por flagelação, tento estar atento a todas as acrobacias e grito não a quem quer o pão e circo de triste memória. Enquanto vivos, é-nos indispensável a força moral da resistência e a capacidade de perspectivar a dignidade humana como um objectivo a construir dia a dia, incessantemente. Até sempre!Gabriel de Fochem13 de Maio de 2012.