Nas estradas e encruzilhadas da Vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

29
Dez 14

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 Cruz e Sousa (João da Cruz e Sousa) nasceu em 21 de novembro de 1861 em Desterro, hoje Florinaopolis, Santa Catarina. Seu pai e sua mãe, negros puros, eram escravos alforriados pelo marechal Guilherme Xavier de Sousa. Ao que tudo indica o marechal gostava muito dessa família pois o menino João da Cruz recebeu, além de educação refinada, adquirida no Liceu Provincial de Santa Catarina, o sobrenome Sousa.

Acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.

Sofre uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego miserável na Estrada de Ferro Central.

Apesar de toda essa proteção, Cruz e Sousa sofreu muito com o preconceito racial. Depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos de preconceito racial.

Algum tempo depois é nomeado promotor público, porém, é impedido de assumir o cargo, novamente por causa do preconceito. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e continuou sendo vítima do preconceito.

Em 1893 casa-se com Gravita Rosa Gonçalves, que também era negra e que mais tarde enlouqueceu. O casal teve quatro filhos e todos faleceram prematuramente, o que teve vida mais longa morreu quando tinha apenas 17 anos.

Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão.

Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis.

Cruz e Sousa é, sem sombra de dúvidas, o mais importante poeta Simbolista brasileiro, chegando a ser considerado também um dos maiores representantes dessa escola no mundo. Muitos críticos chegam a afirmar que se não fosse a sua presença, a estética Simbolista não teria existido no Brasil. Sua obra apresenta diversidade e riqueza.

De um lado, encontram-se aspectos noturnos, herdados do Romantismo como por exemplo o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, angústia morte etc. Já de outro, percebe-se uma certa preocupação formal, como o gosto pelo soneto, o uso de vocábulos refinados, a força das imagens etc. Em relação a sua obra, pode-se dizer ainda que ela tem um caráter evolutivo, pois trata de temas até certo ponto pessoais como por exemplo o sofrimento do negro e evolui para a angústia do ser humano.

É considerado o mestre do simbolismo brasileiro.

 *

Livros publicados:

 

Poesia:

Broquéis, 1893

Faróis, 1900

Últimos Sonetos, 1905

O livro Derradeiro, 1961

 

Poemas em Prosa:

Tropos e Fanfarras, 1885 - em conjunto com Virgílio Várzea

Missal, 1893

Evocações, 1898

Outras Evocações, 1961

Dispersos, 1961

 

CRONOLOGIA

1861

Nascimento do poeta em 24 de novembro, Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Filho do escravo mestre-pedreiro Guilherme e da escrava liberta, Carolina Eva da Conceição, negros puros.

1869

Ingresso na escola pública, depois de receber as primeiras letras de dona Clarinda Fagundes de Souza, mulher do marechal Ghilherme Xavier de Sousa, em cuja casa o poeta foi criado.

1871

Matrícula no Ateneu Providencial Catarinense, onde lecionava o alemão Fritz Müller. Cruz e Sousa estudou com distinção grego, latim, inglês, francês, português, matemática e ciências naturais.

1881

Fundação, com Virgílio Várzea e Santos Lostada, do jornal literário "Colombo". Viagem ao Rio Grande do Sul, de navio, acompanhado a Companhia Dramática Julieta dos Santos, como ponto teatral.

1884

Nova viagem ao Norte do país. Aclamações abolicionista ao poeta na Bahia. Em 1885 publica o livro de poemas em prosa "Tropos e Fantasias" em parceria com Virgílio Várzea. Dirige o jornal "O Moleque".

1888

No Rio, entra em contato com Luís Delfino, B. Lopes e Nestor Vítor. Este tornar-se mais tarde grande amigo, admirador e editor do poeta. Leituras de Edgar Allan Poe e de alguns simbolistas europeus.

1888

Abolição da escravatura. Durante estada no Rio, apresenta a José do Patrocínio um livro de versos chamado "Cambiantes", que não chegou a ser publicado. O livro continha poemas abolicionistas.

1890

Muda-se definitivamente para a capital federal, onde trabalha como noticiarista da revista "A Cidade do Rio de Janeiro". Leitura de Mallarmé. Colabora na "Revista Ilustrada" e no jornal "Novidades".

1891

No dia 18 de setembro, à porta de um cemitério de subúrbio, Cruz e Sousa conhece Gavita Rosa Gonçalves, seu grande amor. Gavita é uma costureira negra que se criara em casa de um médico de posses.

1893

Publicação de "Missal", prosa, em fevereiro, e "Broquéis", poemas, agosto, pela Magalhães e Companhia. Em dezembro casa-se com Gavita e é nomeado praticante de arquivista na Central do Brasil.

1891

O nascimento do primeiro filho marca o começo das grandes dificuldades financeiras. Finda o mandado de Floriano Peixoto. Em novembro toma posse o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes.

1896

Morte do pai em Santa Catarina, com cerca de 90 anos. Loucura da mulher, no Rio. Em meio a extremas dificuldades, compõe os poemas de "Faróis" e a prosa poética de Evocações.

1896

"Evocações" só é publicado após sua morte. Fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual Machado de Assis seria o primeiro presidente e para a qual o nome de Cruz nem seria cogitado.

1897

A tuberculose ataca Cruz e Sousa no final do ano. Em meio à doença, à pobreza e ao desamparo social, o poeta compõe "Últimos Sonetos", publicados em 1905, em Paris, pelo amigo Nestor Vítor.

1898

A idéia da morte assombra o poeta, contaminando os seus últimos poemas. Em 15 de março, em busca de saúde, parte com Gavita grávida para Sítio, em Minas. Os três filhos ficam no Rio.

1898

Três dias após a chegada, o poeta morre, em 19 de março. Antes de partir para Sítio, o poeta entrega a Nestor Vítor os originais de três livros: "Evocações", "Faróis" e "Últimos Sonetos".

 

publicado por Do-verbo às 23:13

Retrato.jpg

 

Se não encantas cantando,

por que teimas em cantar?

Se não convences falando,

por que insistes em falar?

 

Quem não sabe que deliras,

ouvindo as tuas mentiras?

 

Quem não sabe que a vaidade

é toda a tua verdade?

 

Quem não sabe que Narciso

teve mais modéstia e siso?

 

És o anverso e o reverso

da mesma falsa moeda,

mácula do pátrio terso

que resiste e que leveda...

 

És o direito e o avesso

da casaca já no fio,

que, na feira, é adereço

dos arautos do sandio.

publicado por Do-verbo às 21:53

percurso_maiomaduro.jpg

 

 

 

Nas espigas,

 

levedam cantigas

 

com sabor a pão.

 

 

 

José-Augusto de Carvalho

Viana*Évora*Portugal

publicado por Do-verbo às 21:16

dordio_gomes_simao_cesar-cabeça_de_ceifeiro_alent

 Tela de Dórdi Gomes / Pintor alentejabo

 

 

Já fui maltês e ladrão

de quanto me foi roubado:

meu covil foi o montado;

meu camarada, o suão.

 

Fui livre à minha maneira,

como um homem deve ser;

a lei dei a conhecer

ma mira da caçadeira.

 

Por roubar o que era meu,

nas malhas bem apertadas

das baionetas caladas

caí num dia danado;

mas contas ninguém me deu

de quanto me foi roubado.

 

 

José-Augusto de Carvalho

Lisboa, 1969.

In «arestas vivas», 1980

publicado por Do-verbo às 21:05

A questão dos feriados não poderá ser analisada com a leviandade que se anuncia e que prefigura uma ameaça grosseira à memória colectiva de um povo.

--- O 5 de Outubro não assinala, apenas, a implantação da República(1910); assinala, também, tanto quanto sei, a independência, no recuado século XII (1143);


--- O 1º. de Dezembro (de 1640) assinala a recuperação da independência perdida e não constitui qualquer afronta a Espanha;


--- O 14 de Agosto (de 1385), que deveria ser feriado e não é, vá lá a gente entender o porquê de tamanha desconsideração, assinala a manutenção da nossa condição de país independente;


--- O 10 de Junho assinala Camões e a pátria imortalizada n'Os Lusíadas;


--- O 25 de Abril (1974) assinala a recuperação da dignidade perdida.


Que querem matar, afinal?
Os nossos maiores coram de vergonha! É esta afronta que devemos ao seu denodo e à nossa identidade?
Indignado, aqui fica meu protesto.


José-Augusto de Carvalho
Viana (Évora)

Importante: Não se incluem no texto acima os feriados internacionalmente consagrados: o 1º. de Janeiro, o 1º. de Maio e o 25 de Dezembro, na certeza, se é que vivemos em tempo de certezas, de que não serão objecto de represália.
 
Nota: Desenho de José Dias Coelho, assassinado pela PIDE, n década de sessenta do século XX.

publicado por Do-verbo às 18:42

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